sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Bioindicadores marinhos auxiliam análises de impacto ambiental

Por Flora Serra

Presença de metais pesados em organismos vivos dos sedimentos marinhos de região analisada foi ligeiramente maior do que a constatada na própria água do mar, indica estudo.


Agência FAPESP – Verão, férias, praias. Para saber quais são as praias próprias para mergulho e quais estão contaminadas, órgãos ambientais fazem análises hidroquímicas de todo o litoral do Brasil. E uma pesquisa conduzida no Instituto de Geociências e na Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo (USP) demonstrou a importância da análise geoquímica dos sedimentos e dos bioindicadores marinhos em análises de impacto ambiental, podendo auxiliar na avaliação das praias.
 
O trabalho, que teve apoio da FAPESP, www.bv.fapesp.br/pt/projetos-regulares/26293/analise-geoambiental-enfase-metais-pesados, foi coordenado pela professora Wânia Duleba e teve o objetivo de avaliar a qualidade ambiental da água e dos sedimentos de locais distintos: dos emissários submarinos do Araçá e do Terminal Petrolífero Almirante Barroso (Tebar).
 
“Essas duas regiões estão localizadas em São Sebastião, no litoral de São Paulo, e estão submetidas a esgotos, sendo um deles doméstico (Araçá) e outro industrial ou petroquímico (Tebar)”, disse Duleba.
 
A pesquisa comparativa avaliou a influência de dois tipos de efluentes no meio marinho. As análises foram além dos aspectos hidroquímicos do local.
 
Os pesquisadores determinaram as características geoquímicas do sedimento (ou assoalho) marinho e analisaram como a biota (conjunto de seres vivos do local) reage à presença de diferentes tipos de componentes na água.
 
O organismo vivo escolhido para viabilizar a análise foi uma espécie oportunista de foraminífero bentônico, a Ammonia tepida. “Trata-se de um protozoário com uma carapaça calcária que habita o assoalho marinho, de onde absorve os elementos químicos que, ocasionalmente, são depositados no mar”, disse Duleba.
 
A coleta dos foraminíferos foi realizada em diferentes estações dos anos de 2005, 2006 e 2007. Logo em seguida, as carapaças dos protozoários ainda vivos foram submetidas a análises químicas por espectrômetros de massa.
 
Duleba destaca a importância de se realizar as análises em organismos vivos. “Anteriormente, estudos ambientais costumavam fazer as observações em organismos mortos. No entanto, nossa pesquisa mostrou que é preciso avaliá-los ainda vivos, pois, quando morrem, já não refletem mais o momento da coleta”, disse.
 
Metal nas carapaças
Análises granulométricas e geoquímicas do sedimento, obtidos no Instituto de Geociências, e dados hidroquímicos da coluna d’água, fornecidos pela Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb) também foram levados em consideração pelos pesquisadores, que verificaram um pico de contaminação por cobre no efluente do Tebar no segundo semestre de 2006.
 
“Nas carapaças dos foraminíferos coletados no período foi detectada forte presença de cobre. Em 2005/2006, os foraminíferos tinham tamanho reduzido e sua quantidade no assoalho marinho era baixa, assim como a biodiversidade da área, indicando uma possível situação anômala”, disse Duleba.
Os elementos químicos das carapaças foram obtidos por espectrometria de massa na Universidade de Bremen, na Alemanha, e por fluorescência de raio X por luz síncrotron no Laboratório Nacional de Luz Síncrotron, em Campinas.
 
A pesquisadora salienta que a área marinha avaliada não excedeu os limites de poluentes permitidos por órgãos ambientais nos demais períodos analisados. “Não se pode afirmar que a coluna d’água de São Sebastião, submetida a intenso despejo de efluentes dos emissários submarinos do Araçá e do Tebar, esteja contaminada”, disse.
 
Entretanto, ao confrontar as variáveis hidroquímicas fornecidas pela Cetesb com as do sedimento e sua biota, os pesquisadores observaram que, nas carapaças dos foraminíferos, a presença de alguns componentes químicos era maior do que a detectada na água.
 
“Em pesquisas de impacto ambiental, não adianta fazer análises apenas da água de uma região marinha. É preciso considerar o sedimento e, principalmente, a biota bentônica do local. Os órgãos ambientais devem se atentar a esse fator”, afirmou Duleba.
 
Fonte: Agência FAPESP 

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