quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Brasil autoriza caça de javali-europeu para conter danos à biodiversidade

 
 
O governo brasileiro deu aval nesta sexta-feira (1º) para iniciar a caça de javalis-europeus e de seu híbrido com o porco doméstico, popularmente chamado de javaporco, considerados animais exóticos que ameaçam a biodiversidade do país. De acordo com instrução normativa publicada no “Diário Oficial da União” pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais (Ibama), a decisão pelo abate para reduzir a população de javalis ocorreu após registro de ataques a humanos, a animais silvestres e domésticos, e danos a plantações e florestas.
Segundo Maria Izabel Gomes, bióloga coordenadora de fauna silvestre do Ibama, a nocividade do javali foi declarada após a elaboração de estudos, os quais comprovaram que o animal da mesma família do porco não tem predador natural e está se proliferando rapidamente por diversas regiões do país, principalmente no Sul e na Amazônia. Não há uma estimativa sobre a população desta espécie em todo país. No entanto, há cerca de 300 mil exemplares distribuídos entre o Rio Grande do Sul, Paraná e Santa Catarina. Há ainda registros na Bahia, Acre, Rondônia (os dois últimos são estados amazônicos), Rio de Janeiro e São Paulo.
“É um animal agressivo, territorialista, que ataca ovos de espécies como jacarés e tartarugas, além de cruzar com porcos domésticos (…). Não há casos de mortes humanas provocadas por javalis, mas é possível acontecer”, explica a bióloga.
Invasão – Os primeiros registros de introdução do javali-europeu para o Brasil são de 1904. Indivíduos trazidos da Europa para a Argentina e partes do Uruguai escaparam de seus criadouros e invadiram o território brasileiro pela fronteira. Em 1996 e 1997 foram realizadas importações de javalis puros originários da Europa e do Canadá para os estados de São Paulo e Rio de Janeiro. No entanto, segundo o Ibama, o escape de animais e a criação em ambiente selvagem fez do javali uma praga, que pode transmitir doenças para animais nativos.
Abate controlado – Maria Izabel explica que o abate poderá ser feito com o uso de arma de fogo ou com ajuda de armadilhas. Poderão capturar javalis apenas pessoas que tiverem inscrição junto ao órgão, já que receberão um documento que deverá ser apresentado toda vez que haver o questionamento da fiscalização. O uso de arma de fogo só poderá ser feito por quem receber autorização do Exército Brasileiro. O transporte de javalis capturados vivos não será permitido e a comercialização ou a doação desses produtos é proibida pela legislação sanitária e ambiental brasileira.
Segundo a técnica do Ibama, o caçador deve se atentar para não confundir o javali com outros animais nativos que são parecidos, como as queixadas e os catetos (ou catitus), também chamados de porcos-do-mato. O javali-europeu tem presas grandes, pode medir cerca de 1,3 metro e pesar entre 80 kg e 250 kg. (Fonte: Globo Natureza)
Fonte: Ambiente Brasil


Para realizar o controle do javali e seus híbridos utilizando-se de armas de fogo e outros meios é necessário fazer uma inscrição junto ao Ibama, conforme § 1º do Art. 3º e Art. 9º que seguem:
INSTRUÇÃO NORMATIVA Nº 3, DE 31 DE JANEIRO DE 2013, publicada no DOU de 01/02/2013.
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Art. 3º O controle dos javalis vivendo em liberdade poderá ser realizado por pessoas físicas ou jurídicas, conforme previsto nesta Instrução Normativa
§ 1º - Todas as pessoas físicas e jurídicas que realizarem o controle de javalis deverão estar previamente inscritas no Cadastro Técnico Federal (CTF) de atividades potencialmente poluidoras e/ou utilizadoras dos recursos ambientais do IBAMA no código 20-28, na categoria "Uso de Recursos Naturais", descrição "manejo de fauna exótica invasora".
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Art. 9º Enquanto não for implementado o sistema eletrônico de informação para controle de espécies exóticas invasoras (SISEEI) as solicitações de autorizações, as declarações e os relatórios devem ser encaminhados às Unidades do IBAMA nos Estados.
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Íntegra da Instrução Normativa no link abaixo:
Para o inscrição exigida para pessoa física, siga os passos no link abaixo:

*Nota do Blog:
Eu, particularmente, sou completamente contra a caça de animais silvestres, porém em razão da situação dos javalis, javaporcos e espécies similares ter ficado absolutamente insustentável, o Governo Federal, a fim de encontrar uma solução para o problema de forma simples e barata, resolveu liberá-la.
Há anos esse problema já é conhecido, porém fica a pergunta: por que se esperou tanto tempo para uma providência ser tomada? Será que a nocividade do javali, seu comportamento feral, facilidade de reprodução e adaptação e ausência de predador já não é algo conhecido, presente em diversos relatos? Seria realmente necessário novo estudo para relatar o fato?!

Em nota, o Blog de Proteção Animal "Fala Bicho" (http://www.ogritodobicho.com/2013/02/brasil-autoriza-caca-de-javali-para.html) lamenta a autorização da caça, tocando num ponto bastante relevante: o IBAMA tirou sua responsabilidade de controle de animais exóticos e passando para a sociedade, e ainda, alimentando a indústria e o comércio da caça. Não sou tão radical como os protetores, mas compartilho, em parte, seus argumentos.

Ainda há de se ressaltar outro ponto, que me parece um pouco nebuloso: como ficaria a liberação das armas de fogo para a caça desses animais? E ademais, não estamos arriscando que seres humanos sejam erroneamente "abatidos" em áreas de mata, por caçadores descuidados ou intransigentes? Como ficaria a segurança nesse caso?
O Governo Federal deveria não somente liberar a caça por período pré-determinado, mas também promover ações a fim de eliminar a espécie invasora de nossos biomas. Além disso, é latente a necessidade de PROIBIR a criação desse animal, assim como ocorreu com o Achatina fulica (Caramujo gigante africano). Porém o lobby dos grandes e luxuosos restaurantes que oferecem essa carne como iguaria, obviamente prejudicam que essa medida seja tomada. E assim caminha o Brasil...

Ato Médico: uma disputa de poder e retorno financeiro ou uma questão de saúde? Entrevista com Leila Massière

 
Foi aprovado pela Comissão de Assuntos Sociais do Senado, em dezembro de 2012, o projeto de lei conhecido como Ato Médico que define as atribuições específicas dos profissionais da medicina. A proposta está em discussão há mais de dez anos no Congresso e agora precisa ser votada no plenário para que a lei possa ser promulgada. Entretanto, há pontos do texto que são discutidos por outros profissionais da área médica, como, por exemplo, fisioterapeutas, psicólogos e acupunturistas, pois há definições que não são exclusivas da atividade médica.
 

Para Leila Massière, pós-graduada em acupuntura, mestre em Sociologia da Saúde e coordenadora do instituto Shen de medicina chinesa, com sede em Recife, o que há por trás de toda essa discussão é uma disputa de poder. "Em linhas gerais, a questão do Ato Médico está permeada por uma disputa de poder e, consequentemente, o retorno financeiro, o ganho dos médicos. Acho muito delicado a gente estar discutindo saúde em termos de poder e de interesse financeiro entre as categorias”,argumenta. Leila sustenta que caso essa lei seja aprovada e sancionada a questão da saúde no Brasil pode se agravar, pois tornaria a medicina ainda mais cara. "Se a gente parar de pensar o interesse pessoal e começar a pensar no interesse da população brasileira, começamos um debate mais interessante, mas infelizmente isso não acontece e são raras as exceções”, complementa.
 
Confira a entrevista.
 
IHU On-Line - Que aspectos da Lei causam divergência entre os médicos e os demais profissionais da área da saúde?
Leila Massière -Em linhas gerais, a questão do Ato Médico está permeada por uma disputa de poder e, consequentemente , o retorno financeiro , o ganho dos médicos. Acho muito delicado a gente estar discutindo saúde em termos de poder e de interesse financeiro entre as categorias. Eu não vejo a saúde desta forma. Saúde é uma necessidade humana, um direito humano. Quando a gente olha para a questão da saúde a gente tem que ver isso como quem olha para outro ser humano, que precisa de cuidado e de atenção, então quando a gente coloca isso como uma questão de mercado percebemos que a discussão já está no lugar errado. É assim que eu vejo o Ato Médico.
 
IHU On-Line - Na avaliação da senhora, então, essa discussão é pautada economicamente e não sob a perspectiva da saúde?
Leila Massière -Econômica, não de saúde, com certeza. Então as preocupações relativas a saúde , por exemplo, digamos que os médicos acham que eles são os profissionais mais qualificados para determinados procedimentos, eu até concordo com isso e acho que, realmente, eles são os mais qualificados para a área a qual estão preparados, pois estudaram medicina e dominam aspectos daquela especialidade. Porém existem inúmeros outros saberes que eles desconsideram, por exemplo os saberes psicológicos, da fisioterapia, dos educadores físicos, dos enfermeiros, que acabaram depois de muita luta sendo minimamente respeitados no texto do Ato Médico, ainda que sejam respeitados de uma maneira subordina. Aí fica claro o poder que está sendo disputado e o interesse econômico.
 
IHU On-Line - Onde, exatamente, fica mais evidente esta disputa de poder?
Leila Massière -Eu cheguei a escrever um artigo no final de 2010, quando avaliei todos os itens do projeto de lei naquela época e, portanto, não acompanhei as mudanças que houveram de lá para cá. Mas do que eu me lembro um dos pontos que era discutido era a chefia dos estabelecimentos de saúde. Por que um médico deve ser o chefe de um hospital se você pode ter profissionais mais qualificados de outras áreas, inclusive administradores? Para se ter uma boa chefia de um hospital precisa ser um bom administrador e, claro, precisa ter consultorias técnicas de diferentes profissionais que atuam na saúde, tanto médicos como fisioterapeutas, pois administrar um hospital não é somente uma questão financeira. É preciso ter um bom conselho dos profissionais. Então isso é um ponto onde deixa claro a disputa de poder.
 
IHU On-Line – E na área da saúde, onde essa discussão se sustenta?
Leila Massière -A questão em que cria um atrito que eu acho muito relevante é a do diagnóstico. Ela também foi um aspecto que evoluiu ao longo do debate do Ato Médico. Inicialmente diagnóstico era feito por médico e, com muita batalha, os profissionais da área da saúde conseguiram deixar preservado o direito de diagnosticarem em suas áreas, diagnóstico psicológico, de fisioterapia, estão todos eles lá protegidos. Agora, eu não sei o que isso vai significar na hora da implantação da lei porque outro ponto muito polêmico, e não sei como evoluiu a questão, é de o paciente ter que passar por um médico para obter o primeiro diagnóstico para depois ir para outros profissionais. Então alguém que precisasse de um psicólogo teria que procurar um médico. Mas isso não é uma questão que está muito clara na legislação, porque diz que o diagnóstico dos outros profissionais estão preservados, então será que isso não foi vetado? Essas coisas são meio obscuras.
 
IHU On-Line - O que é o diagnóstico para esta lei e por que um procedimento que parece simples causa tanta divergência?
Leila Massière -Isso é uma coisa bem discutida no meu artigo. Esse projeto de lei passa por muitas comissões e em cada uma delas pode sofrer ajustes até seguir à aprovação do Congresso, por isso a versão que eu conheço pode estar desatualizada, mas a que eu vi já tinha evoluído muito. Nos termos desta lei, diagnóstico é tudo que está determinado na Classificação Internacional a Doenças (CID) da Organização Mundial da Saúde (OMS), que é uma listagem imensa onde há um código para cada doença diagnosticada pela medicina. Então, tudo que estaria ali no primeiro artigo seria exclusividade médica. O segundo, diz que "isentando-se os diagnósticos próprios das outras áreas da saúde”. Por exemplo, diagnósticos de histeria ou psicose, são diagnósticos dos psicólogos, mas também estão na CID. Eu entendo que esses profissionais tem o direito de fazerem seus diagnósticos e que os pacientes não precisam, necessariamente, passarem por encaminhamento médico. Se isso acontecer, estrago menor.
 
Mas o que eu vejo é que quando uma lei passa, isso é apenas o primeiro ponto. Como ela vai ser implantada é o segundo ponto. Quando uma lei vai ser aprovada no congresso aí você vai ter nessa implantação uma série de disputas e implicações sociais que vão realmente desaguar em como que aquilo será cumprido, ainda mais no Brasil onde tem coisa de lei colar e não colar. Então a gente tem que ver se será viável ou não. E mais, as leis passam e depois podem sofrer alterações. Por exemplo o caso dos jornalistas que era uma profissão regulamentada por lei e deixou de ser. A lei que regulamentava a profissão caiu, então antes você tinha que ser formado. Não vejo a publicação de uma lei como algo imutável, pois a partir daí pode-se ter um debate talvez mais pautado no real, porque o que eu vejo que essa lei pode causar é um grande estrago.
 
IHU On-Line - Que implicações a sanção desta lei pode trazer à saúde pública no Brasil?
Leila Massière -Acho que a questão está um pouco aquém disso. O estrago já existe e pode agravar ainda mais. O Brasil tem dado um enfoque muito grande a esse modelo de saúde biomédico ocidental, apesar de que vai se correndo por fora e outros campos vão se abrindo, que é onde vou chegar com a questão da acupuntura. Mas o fato é que nosso sistema de saúde está falido, tanto no âmbito público quanto no privado. Porque a gente está em uma insegurança muito grande, porque se temos que pagar o médico do nosso bolso vamos à falência , se pagamos o plano de saúde temos a certeza do mal atendimento e é uma despesa cara e quanto mais velha pessoa pior. Em algumas circunstâncias específicas como o parto, por exemplo, há casos de pessoas que têm que pagar por fora para fazerem um parto normal, porque o plano não cobre. E tem ainda a questão do SUS (Sistema Único de Saúde) que você não tem a certeza do atendimento e pode morrer com facilidade se você precisar contar com o serviço público.
 
O nó da questão
Aonde eu vejo esse nó. A forma de lidar com a saúde no ocidente, baseada em equipamentos caros, diagnósticos caros e uma indústria farmacêutica pornográfica, eu não encontro outra palavra para descrever, porque cobram valores altíssimos por uma substância que não precisava custar isso e que a população necessita. Apesar de o (José) Serra ter quebrados as patentes, o que foi um grande passo, a questão continua. E por último a questão dos profissionais que sustentam esse sistema. Os médicos são profissionais caríssimos e aí, nas palavras do ministro da Saúde (Alexandre Padilha), eles são os únicos profissionais que não têm desemprego hoje no Brasil. Se o cara é médico, ele trabalha em três ou quatro empregos, trabalha não, ele ganha por três quatro empregos e trabalha partes do dia em cada uma delas.
 
Então o que acontece, esta é a única profissão que conheço em que quem decide se uma faculdade abre ou não é o conselho dos profissionais. Os advogados também têm isso, mas eles não interferem na abertura das faculdades, o que há é uma prova para ver a qualidade do profissional, o que eu acho mais lícito. Embora eles deixem para cercear o direito depois que o aluno terminou o curso, aí você faz uma faculdade inteira, cursos de má qualidade e aí no final você faz uma prova e não deixam a pessoa advogar. Mas no caso dos médicos é ainda pior porque você não deixa sequer abrir a faculdade. Eu sou, além de acupunturista, economista e como economista a gente pode dizer que é uma lei de oferta e procura e há teorias que defendem que há uma autorregulação entre oferta e demanda, mas isso não existe.
 
Necessidade de médicos
O Brasil precisa de médicos, mas não consegue porque a categoria quer ganhar muito. Então você restringe o número de profissionais disponíveis e por isso você consegue elevar o preço, pois é uma lógica de mercado onde se tem pouca oferta. Aí você tem médicos que são banqueiros, morando nos melhores prédios da cidade, se achando a nata da população porque fazem um curso que dura dois anos a mais que a média dos demais cursos da área da saúde. Dura-se um pouco a mais e ganha-se um pouco a mais, tudo bem. Mas agora a gente tem profissionais extremamente especializados, terapeutas que ficam anos fazendo especialização e que no final se dedicaram muito mais tempo ao estudo do que os próprios médicos, eu mesmo tenho dez anos de estudo de acupuntura. Uma pessoa que estuda seis ou sete anos querer ganhar dez vezes mais que a media a população é uma coisa injustificável. Ainda mais quando se trata de uma primeira necessidade que é a saúde. Isso cria uma classe elitista, o que é histórico, um glamour que vem do "quero ganhar dinheiro, logo vou ser médico”. Você tem que ser médico porque tem aptidão para cuidar e não porque você está em uma profissão que dá status e foi isso que medicina se tornou no Brasil.
 
Passar o Ato Médico pode agravar ainda mais o estado atual de uma medicina que não tem dinheiro para se sustentar e atender toda a população em nenhum âmbito, nem no público, privado ou particular. A medicina já é muito cara e o ato médico pode torna-la ainda mais cara. Por que pagar um chefe que vai ser ainda mais caro? Por que os pacientes serão obrigados a passar necessariamente por um médico que já não dá conta há muito tempo da demanda porque tem que atender a população que está à espera dele? Então aumentar a demanda, por meio de uma burocracia institucionalizada para crescer a receita deste grupo é um negócio absolutamente absurdo.
 
IHU On-Line - A senhora é contra a regulação do trabalho dos médicos?
Leila Massière -Todas as questões da saúde sob o olhar biomédico são reguladas por lei, estou representando aqui a acupuntura, mas seja psicologia ou outras áreas são assim. Todas estas que têm autarquias, conselhos, são reguladas por lei e os médicos não são. Então não acho que a gente deva somente jogar pedra. Acho que é lícito eles tentarem um regulamento para a própria profissão para que exista uma jurisdição definida. O que é, afinal, o trabalho dos médicos? O próprio Ato Médico começou a ser debatido com o conflito com os acupunturistas porque quando o Conselho Federal de Medicina reconheceu a acupuntura como especialidade , em 1998, eles começaram a confundir propositalmente com exclusividade. Então se obstetrícia é uma especificidade da medicina então ninguém mais pode exercer obstetrícia, se a geriatria é uma especialidade da medicina ninguém mais pode ser geriatra, então se acupuntura é uma especialidade da medicina ninguém mais pode exercê-la. Aí os acupunturistas foram ver onde estava escrito que era exclusividade dos médicos aquilo que eles têm como especialidade e descobrimos que não tinha isso em lugar nenhum, pois não tem lei que regule a medicina. Então quando eles falaram que quem só pode diagnosticar é o médico fomos atrás e não encontramos nada. Aí veio à tona que não tem regulamentação e começou a ocorrer uma coisa importante de frisar, que foi o conselho federal de medicina lançar seus pareceres internos. Antes dessa discussão, as determinações do conselho tinham quase peso de lei, já ninguém questionava esse poder. Eles tinham esse direito de fato, embora não de direito. Foi quando a gente começou a discutir "vocês não têm o direito exclusivo de diagnosticar ou só vocês fazerem acupuntura, isso não está escrito em lugar nenhum”. Foi aí que eles começaram a discutir esse direito.
 
IHU On-Line - Na avaliação da senhora, o que resultou até o momento de toda essa discussão?
Leila Massière -Bem, o que ficou em relação ao diagnóstico é uma exclusividade médica. Para os fins desta lei diagnóstico é tudo aquilo que consta na CID. O segundo ponto é o que excluem da exclusividade médica e aí cita uma série de profissionais de saúde ocidentais. Só que existe um conflito porque o diagnosticar é muito mais do que aquilo que está na CID. Por exemplo, o diagnóstico de que uma pessoa está com um encosto. O sujeito vai no pai de santo e ele diz que a pessoa está com um encosto, isso não é uma exclusividade médica porque não está na CID. Por outro lado, na lei não consta o que está excluído do diagnóstico médico. Ou seja, existe uma gama imensa de diagnósticos que não existem na lei e estão sendo tratados como inexistentes. Então você coloca em um lugar de ocultação, como se não existisse. No caso da acupuntura é exatamente isso.
 
Medicina chinesa
A gente, por exemplo, tem o nosso diagnóstico baseado na medicina milenar chinesa que nada tem a ver com o diagnóstico ocidental. Então se uma pessoa chega para mim com uma dor no punho, um médico pode diagnosticar como uma tendinite ou por um fisioterapeuta também, porque esses dois profissionais estariam autorizados pela lei. O acupunturista não faria o mesmo porque ele diagnostica a partir de uma série de critérios próprios desta medicina, situação da ponta da língua, averiguação dos sintomas, a gente vai ver se essa dor no punho é uma deficiência do indo fígado, se é do yang dos membros superiores, é um outro linguajar pertencente a outro universo cultural e muito bem fundamentado como uma racionalidade médica. Este conceito é de uma socióloga do Rio de Janeiro, Mabel Luz, em que ela exprime o que é uma racionalidade médica: uma forma de pensar a saúde totalmente estruturada e pensada em cinco dimensões – morfologia própria, fisiologia própria, uma pra gnose própria, uma terapêutica própria e uma cosmologia própria, que é uma forma de ver o mundo. Aí a gente tem que entender essas hierarquias e subordinações de que o mundo não é o ocidente.
 
Sabedoria oriental
O mundo no oriente tem outros saberes e outras culturas tão valiosas ou mais que as nossas. A medicina chinesa é muito estruturada, existem hospitais imensos na China que atendem a população e que é um saber que tem que ser respeitado. O que na verdade já é respeitado, pois inclusive foi aceito como especialidade médica. Já foi comprovado cientificamente, é reconhecido pela Organização Mundial da Saúde e é reconhecido pela Unesco desde 2007, então é indiscutível sua utilidade. Ignorar que esse tipo de diagnóstico existe é uma questão a ser considerada porque os congressistas. Como vou fazer com que eles conheçam essas especificidades do acupunturismo? É complicado fazer isso chegar à tona, mas é um fato. Esse é um saber que pode ser precioso para a nossa população no Brasil e para todo o ocidente.
 
Existem recomendações da OMS em um livro chamado Estratégias de Inserção das Medicinas Tradicionais. Juntamente com a medicina chinesa, tem medicina indiana, homeopatia, medicina ocidental e antroposofia, que são cinco especialidades médicas completas e estruturadas . No Brasil tem um saber popular ligado a ervas maravilhoso. A gente tem parteiras que estão na linha de frente brigando com os médicos por um saber da humanidade que é fazer um parto. Aí o conselho de medicina do Rio de Janeiro lançou que estava proibido o parto domiciliar. O conselho acha que manda na população. Não, o conselho manda nos membros do conselho, nos associados. O que o conselho pode determinar e foi isso que ele determinou é que os médicos estavam proibidos de fazer parto domiciliar, isso o conselho pode fazer. Apesar de que ele está obrigando os médicos a quebrar uma lei federal e responder por isso juridicamente, pois se o médico tem um saber e nega assistência a uma pessoa, ele pode ser preso por isso. Tanto que a determinação caiu. Até porque a pessoa é quem escolhe onde ela vai fazer o parto, se eu quiser fazer meu parto no meio da rua eu faço. E ainda tem a falta de médicos. No Amazonas são as parteiras que fazem os partos. Tem saberes que já estão estruturados, mas há outros que serão necessários os médicos e que bom que podemos tê-los quando for necessário.
 
A acupuntura não tem a pretensão de dar conta de tudo, pois tem suas limitações assim como a medicina tem. Aí precisamos, sim, é se comunicar um com o outro. É preciso estimular isso, agora cercear o direito dos outros não cabe.
 
IHU On-Line - Que implicações esta lei pode trazer às medicinas alternativas?
Leila Massière -Além da questão do diagnóstico tem a questão da prática invasiva. Então diz por lei que os médicos são os únicos que vão poder fazer práticas invasivas. Eu não sei como está o caminhar deste debate com os enfermeiros, pois se eles não puderem aplicar uma injeção para tudo. Então acho que talvez isso tenha sido pacificado. Agora se eu não puder colocar uma agulha no meu paciente, o que vai acontecer? O governo vai me aposentar? Porque tem dez anos que eu estudo e trabalho com isso, não posso perder um direito que eu adquiri e a lei não pode retroagir para prejudicar as pessoas. E com os novos acupunturistas, que vai acontecer? A acupuntura vai morrer de qualquer forma? Mesmo que a gente continue a exercer vamos morrer daqui a pouco e isso significa que depois de um tempo não haverá mais acupuntura e os médicos de fato não estão interessados em acupuntura, eles querem é fazer cirurgia plástica para ganhar muito dinheiro. Afinal são pouquíssimos os acupunturistas médicos e que inclusive sofrem bullying na faculdade, pois os colegas os chamam de exotéricos e loucos.
 
Racionalidade Médica
Está tão claro que a acupuntura faz parte de outra racionalidade, outra cultura, e é por isso que não tem uma única disciplina ao longo do curso todo. Nem sequer sobre outras racionalidades médicas, ensinando os médicos que existem outras formas de tratar as pessoas e que são eficazes e reconhecidas pela OMS, onde é orientada a implantação desses serviços principalmente em países subdesenvolvidos. É uma medicina barata, eficaz e preventiva. Por isso é que na China e em Cuba, países comunistas, abraçam a acupuntura de uma forma maravilhosa porque sabem que eles precisam cuidar da população e precisam dar conta. Se a gente parar de pensar em interesses pessoais e começar a pensar realmente no que vai beneficiar a população podemos ser julgados por aquilo que a gente é. É importante que venham ver se temos qualificação ou não para sermos da área da saúde, mas quem tem ver isso é a OMS e a Associação Mundial de Acupuntura. Pode aplicar prova para ver se eu tenho ou não qualificação, mas não um médico dizer que eu não posso, porque ele não conhece a medicina chinesa. A gente tem que ter avaliação e qualificação para poder acertar o serviço.
 
Se a gente parar de pensar o interesse pessoal e começar a pensar no interesse da população brasileira, iniciamos um debate mais interessante, mas infelizmente isso não acontece e são raras as exceções.
 
Fonte:  Adital

Botânicos amadores no Brasil descobrem planta que faz genuflexão

Nova espécie foi encontrada na Bahia e tem como característica principal se curvar e enterrar suas sementes


Planta foi batizada de 'Spigelia genuflexa'

O trabalhador rural, José Carlos Mendes Santos, também conhecido como 'louro', descobriu uma nova espécie de planta no quintal da casa do botânico amador Alex Popovkin, localizada no nordeste da Bahia - área de importante biodiversidade brasileira.
 
Graças à energia solar e uma conexão de internet via satélite, ambos passaram a estudar tal planta e a manter contato com especialistas em taxonomia, até que ela fosse reconhecida cientificamente.
A nova espécie - que possui apenas 3 cm de altura e é dotada de flores esbranquiçadas - tem como característica principal a geocarpia, ou seja, um processo especial de frutificação em que a planta enterra suas sementes.
Depois que os frutos são formados, a espécie dobra seus ramos, fazendo uma genuflexão, e os deposita no solo, garantindo que as sementes fiquem o mais perto possível da planta-mãe. Isso ajuda o crescimento e facilita a propagação na próxima temporada. Um exemplo de planta que também enterra os frutos no chão é o amendoim.
A nova espécie foi nomeada 'Spigelia genuflexa' e aparece em artigo de livre acesso, publicado nesta semana na revista PhytoKeys.

Fonte: Jornal O Estado de São Paulo

Observação do Blog: Recebi essa notícia via e-mail, através do Grupo do Yahoo "Proendemicas". Na mensagem haviam considerações bastante pertinentes do Engenheiro Agrônomo Celso do Lago Paiva, especializado em conservação biológica e pesquisador em botânico, as quais reproduzo abaixo.
 
"Pequena correção sobre o texto abaixo:
"Geocarpia" se refere à produção de frutos sob a superfície do solo, quer a planta enterre o óvulo fecundado (como faz o "amendoim" - Arachis), quer o florescimento ocorra no solo (como em Commelina benghalensis).

Quando a planta produz sementes aéreas e geocárpicas, diz-se que é espécie "anficárpica" (caso de Commelina benghalensis).

O termo "hipógea" (sob a terra") refere-se à existência de estruturas da planta no interior do solo. A grande maioria das espécies vegetais o é, devido ao sistema radicular, predominantemente subterrâneo.
    
Plantas podem produzir, no solo, raízes, flores e frutos, estruturas para simbiose com microrganismos, rizomas e outros ramos subterrâneos (como bulbos e cormos), estruturas para propagação vegetativa, etc.

Espécies geocárpicas e anficárpicas são especialmente abundantes e diversificadas em ambientes semiáridos ou semidesérticos, como no entorno do Mediterrâneo e no Oriente Médio, em diversas famílias.

O conhecimento aprofundado das estratégias de reprodução e de multiplicação das plantas nativas e das plantas exóticas invasoras é crucial para formulação de projetos de recomposição de áreas degradadas.

A genuflexão de ovários fecundados (frutos) é muito comum na natureza, sendo utilizada, por exemplo, para facilitar o acesso das aves aos frutos e às sementes ariladas, quando as aves pousam sobre os ramos. Flores patentes (abaixadas ou pendentes) são comuns, também, em plantas polinizadas por colibris; é o caso dos "brincos-de-princesa" (Fuchsia).
No Brasil a Botânica como atividade de amadores ainda é incipiente, mas na Europa e Japão é muito disseminada e respeitada, dado o nível alto dos pesquisadores, que participam da comunidade de pesquisa como os botânicos profissionais, apenas não sendo remunerados por suas atividades científicas.
 
No Brasil os amadores são muito mais ativos na Ornitologia, o que gera enorme massa de informações de grande importãncia.para a Ciência e a conservação da natureza
No entanto, atividades científicas de amadores são vistas com muitas reservas por profissionais corporativistas e burocráticos."
 

Pesquisadores investigam a relação entre os agrotóxicos e a saúde no Ceará

Em pesquisa realizada entre ABRASCO / UNB, foram encontrados índices de agrotóxicos em água de chuva, em leite materno, na urina dos professores que lecionam em escolas rurais (muito maiores do que em professores que lecionam em áreas urbanas).
 
Foi gerado dossiê apontando que 14 agrotóxicos vendidos no Brasil, já proibidos em outros países por suspeita de causar danos neurológicos (neurotoxicidade), mutação de gens (mutagenicidade) e câncer (potencial carcinogênico). 
 
A pesquisa aponta o aumento dos casos de intoxicação e câncer na região do Ceará em razão de consumo de água do Rio Jaguaribe, contaminada com agrotóxicos. Em estudo realizado com amostras de sangue dos trabalhadores rurais, foram identificadas alterações cromossômicas semelhantes àquelas observadas em pacientes portadores de leucemia aguda, apontando que se continuarem com a exposição aos agrotóxicos, em poucos anos apresentarão a doença.
 

Fotógrafo se arrasta na neve para flagrar sorriso de coruja

O fotógrafo da vida selvagem Yves Adams enfrentou ventos gelados para capturar esses cliques inacreditáveis com sua câmera - após seguir a coruja por todo o dia em Montreal, Canadá, quando a  temperatura média era de -20C.
 
Ele disse: "Eu vi a coruja caçando pela área por alguns dias, então tentei segui-la e ela, obviamente, encontrou um bom lugar".
 
Esta coruja parece levar vantagem no tempo frio por praticar movimentos de patinação para se movimentar sobre o gelo, enquanto se alonga após ter acordado.
 


 


Fonte: Daily Mail

Cientistas apresentam nova espécie de coruja

Uma nova espécie de coruja, descoberta na ilha indonésia de Lombok, foi formalmente descrita por cientistas num estudo.

 
 
 
Dois investigadores independentes observaram a Otus jolandae em setembro de 2003, separados apenas por alguns dias de diferença. A 'nova' coruja é a primeira espécie de ave endêmica registrada na ilha, ou seja, restrita àquela área. O primeiro estudo da espécie foi publicado por uma equipe internacional de cientistas na revista PLOS One.
George Sangster, investigador da Universidade de Estocolmo, na Suécia, descreveu o seu primeiro encontro com esta espécie de coruja. "Eu encontrei a nova coruja em 3 de setembro de 2003 e Ben King encontrou-a de forma independente num local diferente em 7 de setembro de 2003", disse, referindo-se a outro investigador.
Por coincidência, Ben King, do Departamento de Ornitologia do Museu de História Natural de Nova Iorque, nos EUA, estava em Lombok a observar uma mesma espécie de pássaro que Sangster, ao mesmo tempo, sem que ambos se conhecessem.
Ambos gravaram os sons dos pássaros e identificaram um canto, que soava como uma coruja, que nunca haviam ouvido antes nas suas observações na Indonésia. Como as corujas costumam demarcar o seu território, ao reproduzir a gravação, os animais aproximavam-se dos investigadores, que puderam ter uma visão clara para fazer as suas observações.
No entanto, a nova coruja assemelha-se muito a outra espécie das ilhas vizinhas, a Otus magicus, que já fora observada na região. Os observadores só tiveram certeza de que se tratava de uma nova espécie após fazer comparações taxinómicas e examinar os sons gravados com maior rigor. Os 'assobios' da Otus jolandae soaram completamente diferente da espécie já conhecida, concluíram.


Fonte: DN Ciência

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Prédios argentinos pagarão menos imposto por ter jardins no telhado

Redução pode ser de até 20%, segundo a nova legislação.

 
Os prédios da cidade de Buenos Aires pagarão menos impostos por ter jardins no telhado, de acordo com uma lei recém-sancionada pelo governo local.
A redução do ABL (equivalente ao IPTU brasileiro) será de até 20% para o edifício de "telhado verde" de acordo com a nova medida, que contou com ampla maioria dos votos da situação e da oposição, na votação realizada no fim do ano passado.
 
O secretário de Desenvolvimento Urbano portenho, Daniel Chain, disse que a medida vale para os edifícios já existentes.
  
O objetivo, afirmou, é "cuidar o meio ambiente" a partir de uma "mudança cultural".
  
"Nossa meta é ambiental. E entendemos também que devemos ser os primeiros a aplicar a iniciativa. Por isso, desde o ano passado, começamos a construir escolas com vegetação nos telhados. E o mesmo faremos em outros edifícios públicos", disse o secretário à BBC Brasil.
 
 
Prédios novos
  
Segundo ele, seis escolas em construção na cidade terão jardins nos telhados e o mesmo ocorrerá, disse, no terraço do Teatro San Martín, no centro da cidade, que tem 50 anos e será reformado.
 
Arquiteto com especialização em economia urbana, Chain lembrou que Buenos Aires integra o grupo chamado C40 (Climate Leadership Group, que reúne cidades que debatem saídas para preservação do meio ambiente) e que a nova meta de Buenos Aires será a exigência de que os novos edifícios já sejam erguidos com os jardins no telhado.
 
"A medida sancionada é optativa e pretende estimular a criação destes pontos de vegetação. Mas neste ano enviaremos outro texto à Legislatura com a exigência de que novos prédios já tenham esses espaços verdes", afirmou.
 
A ideia, afirmou, é que a medida seja aplicada nos bairros onde são registradas as concentrações de construções na cidade. "Quanto maior o numero de construções, maior a necessidade (de áreas verdes) para vivermos melhor", afirmou.
 
Parques portenhos
 
Buenos Aires é uma cidade conhecida por seus parques, que começaram a surgir entre os séculos 19 e 20, e pela preservação de áreas verdes entre os prédios, chamadas de "pulmón de manzana" (quadra verde).
 
Antes mesmo das novas medidas, alguns locais já tinham começado a implementar o jardim no telhado, como a escola municipal French y Beruti, no bairro portenho de Retiro.
 
Em 2010, em uma área de mais de 200 metros, foi construído um telhado com vegetação que contribui para "refrescar" o prédio nos dias de calor.
 
Especialistas disseram à imprensa local que a etapa inicial para transformar o telhado em jardim começa com uma camada de PVC, depois pedras apropriadas, sistema hidráulico adequado, além de outros materiais específicos para evitar que as raízes das plantas não afetem a construção do prédio. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

 
Fonte: Jornal "O Estado de São Paulo"

Jornada de gato de volta para casa intriga cientistas

Animal se perdeu a 320 quilômetros da residência de seus donos nos Estados Unidos e retornou dois meses depois

 
A gata Holly junto de seus donos Jacob e Bonnie Richter em sua casa, em West Palm Beach, na FlóridaBARBARA P. FERNANDEZ/ NYT
 
Ninguém sabe como aconteceu, mas um gato caseiro que se perdeu de sua família durante uma viagem conseguiu voltar para sua cidade de origem, a cerca de 320 quilômetros de distância e quase dois meses depois. Até mesmo cientistas ficaram assustados como Holly, uma gatinha de 4 anos, apareceu (cambaleando, fraca e magra), na véspera de Ano Novo, num jardim a 1,5 quilômetro da residência de seus donos Jacob e Bonnie Richter, em West Palm Beach, na Flórida. Ela tinha se perdido em Daytona Beach, no mês de novembro.
 
— Tem certeza de que é o mesmo? — questionou John Bradshaw, diretor do Instituto de Antrozoologia da Universidade de Bristol, em entrevista ao “New York Times”. — Há casos em que as pessoas arrumam uma justificativa mental esperando que ele seja o mesmo gato.
 
Mas Holly não apenas tem um padrão de preto e marrom totalmente diferente no seu pelo, como também tem implantado um microchip para identificá-la.
 
— Eu realmente acredito nestas histórias, mas elas simplesmente são difíceis de explicar — disse Marc Bekoff, ecologista comportamental da Universidade do Colorado. — Talvez por ter algum senso de direção, talvez pode ler as pistas de animais, talvez por ser um bom caçador. Não temos informações suficientes para responder a isso.
 
Existe, de fato, pouco dado científico para entender a navegação dos gatos. Animais migratórios, como pássaros, tartarugas e insetos foram estudados com mais profundidade, e sabe-se que eles usam campos magnéticos, pistas olfativas e orientação pelo sol. Cientistas dizem que é mais comum, apesar de também raro, ouvir falar de cachorros que voltam para casa, sugerindo que eles tenham herdado a habilidade de navegação de lobos. Ou que simplesmente sejam levados com mais frequência para viagens em família e que sejam reconhecidos e ajudados por pessoas no caminho.
 
Gatos se movimentam com tranquilidade por cenários familiares, memorizando locais pela visão e pelo olfato, e descobrindo atalhos facilmente, explicou Bradshaw. Já com locais e pessoas estranhas, a situação é mais complicada, embora ele e o biólogo comportamental da Universidade de Cambridge, Patrick Bateson, concordem que o alcance do olfato do gato é bem longo.
 
— Vamos dizer que eles associem o cheiro do pinheiro vindo do norte, então eles se movem em direção ao sul — sugeriu Batenson.
 
Peter Borchelt, estudioso do comportamento animal, se pergunta se não seria possível se Holly seguisse a costa da Flórida por visão ou som, seguindo pela rodovia Interstate 95, na Costa Leste dos Estados Unidos, e decidisse “mantê-la à direita enquanto o oceano ficasse à esquerda”. Mas, segundo ele, “ninguém vai fazer um experimento com um bando de gatos postos em diferentes direções para ver quais conseguem voltar para casa”.
 
O mais próximo disto foi um estudo de 1954 na Alemanha em que gatos foram colocados num labirinto coberto e circular com saídas a cada 15 graus. Segundo o biólogo especialista em gatos, Roger Tabor, os animais do experimento em geral saíram pela opção mais próxima de suas casas, cujas distâncias não ultrapassavam cinco quilômetros de distância.
 
Uma pesquisa da National Geographic e da Universidade da Geórgia com 55 gatos usando vídeos pendurados em suas coleiras sugere que o comportamento destes animais é bastante complexo. Por exemplo, quatro gatos se dividiam entre diferentes famílias, conseguindo comida e atenção de cada lar. Além disso, eles tinham comportamentos de risco, como atravessar rodovias e comer e beber em lugares que não fossem sua casa.
 
Fonte: O Globo Ciência

Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/ciencia/jornada-de-gato-de-volta-para-casa-intriga-cientistas-7361343#ixzz2KoBggoWA
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Mudanças climáticas diminuirão populações de pássaros

Das 370 espécies analisadas, até 88% podem sofrer declínio

 
Um novo estudo da Universidade Durham, no Reino Unido, e da BirdLife International mostra que muitas espécies de pássaros devem sofrer as consequências das mudanças climáticas, o que demandará maior proteção dos sítios mais importantes, melhor administração de regiões fora das cidades e, em casos mais extremos, a remoção de espécies para locais onde terão assistência para sobreviver.
 
A prioridade, segundo os pesquisadores, é uma gestão eficaz de locais que servem como habitat para as espécies consideradas as mais ameaçadas — aquelas que, no futuro, poderiam ser forçadas a abandonarem seu ecossistema. Segundo as projeções, o clima levará ao declínio populacional de 45% a 88% das 370 espécies estudadas.
 
Os estudos consideraram quase 500 cenários, onde cada espécie responderia de forma diferente às mudanças climáticas. Conseguiu-se pela primeira vez, apesar da incerteza das projeções ligadas ao clima, chegar à conclusão de que é extremamente provável que essas modificações nas comunidades dos pássaros devem ocorrer.
 
Os pesquisadores esperam que as políticas de conservação de todo o planeta sejam adequadas à nova realidade, tornando desnecessário o deslocamento das espécies.
 
A pesquisa, publicada no jornal “Global Change Biology”, examinou comunidades de pássaros do Leste do Himalaia ao delta do Rio Mekong, no Vietnã, passando por Butão, Laos, Camboja e regiões do Nepal e da Índia.
 
Fonte: O Globo

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Cientistas descobrem 'segredos' que fazem coruja girar a cabeça 270º

Pesquisadores usaram tomografia e outras técnicas para estudar animais.
Corujas possuem adaptações nos vasos sanguíneos e na estrutura óssea.


 
 
Cientistas da Universidade de Medicina Johns Hopkins, nos Estados Unidos, afirmam ter descoberto os "segredos" por trás da capacidade das corujas de girar a cabeça quase totalmente no corpo - até 270º, segundo o estudo.
 
Usando tomografia computadorizada, angiografia e outras técnicas clínicas, os pesquisadores analisaram a anatomia de 12 corujas. Foram descobertas grandes adaptações biológicas que permitem que o animal não se machuque ao girar a cabeça.
 
As adaptações estão ligadas à estrutura óssea e à rede de vasos sanguíneos dos animais, segundo o estudo, publicado nesta sexta-feira (1º) na renomada revista "Science".
 
Vasos sanguíneos na base da cabeça das corujas, logo abaixo da mandíbula, possuem espessura considerável conforme avançam no sistema circulatório, alguns chegando a ser bem grossos, e mantém esta estrutura mesmo quando o animal gira a cabeça, diz o estudo.
 
O fenômeno é diferente do que acontece com os seres humanos, em que as artérias tendem a se "capilarizar" quanto mais extensas são nesta região, segundo os cientistas. Isso torna a estrutura vascular dos humanos muito mais frágil que a das corujas neste ponto - um giro de cabeça de 270º em humanos tem efeitos extremamente nocivos e pode até levar à morte.
 
'Reservatórios'
Em outra adaptação, algumas artérias abaixo da cabeça das corujas possuem "reservatórios" que permitem que o sangue seja armazenado.
 
A "vantagem" biológica permite que o sangue chegue ao cérebro e aos olhos do animal mesmo quando ele gira a cabeça. Estas adaptações ajudam a minimizar interrupções da circulação sanguínea das corujas, de acordo com o estudo.
 
"Manipular a cabeça de seres humanos é realmente perigoso, porque nós não temos as estruturas de proteção aos vasos sanguíneos que as corujas possuem", disse o cientista Philippe Gailloud, um dos autores do estudo.
 
Fonte: G1 Natureza

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Pesquisador revela efeitos do glifosato em embriões humanos e é ameaçado

 

Segundo Andrés Carrasco, o estudo atesta o que outros cientistas também já confirmaram

 
Do IHU*
Reproduzido do Página 12
 
Há duas semanas, o professor de embriologia Andrés Carrasco denunciou no jornal Página/12 os efeitos devastadores do composto herbicida glifosato sobre os embriões humanos. Esperava uma reação, "mas não tão violenta": foi ameaçado, armaram uma campanha de desprestígio contra ele e até afirmaram que suas investigações não existiam. Nesta entrevista, Carrasco contesta e renova suas acusações contra as multinacionais químicas.
 
A reportagem é de Darío Aranda, publicada no jornal Página/12, 03-05-2009. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
 
Ameaças
Ameaças anônimas, campanha midiática de desprestígio e pressões políticas foram algumas das consequências de um duplo pecado: investigar os efeitos sanitários do modelo agropecuário e, mais grave ainda, se animar a difundi-los.
 
No segundo piso da Faculdade de Medicina da Universidade de Buenos Aires (UBA), trabalha Andrés Carrasco, professor de embriologia, principal pesquisador do Conselho Nacional de Investigações Científicas e Técnicas(Conicet) e diretor do Laboratório de Embriologia Molecular. Com 30 anos de trabalho científico e acadêmico, confirmou, há 20 dias, o efeito letal do glifosato em embriões, cuja marca comercial mais famosa é a Roundup, da multinacional Monsanto.
 
Reação
Ele sabia que viria uma réplica do setor, mas não esperava que fosse de um calibre tão alto. "Não descobri nada novo. Só confirmei o que outros cientistas descobriram", explica, em seu escritório pequeno e luminoso. Passaram-se duas semanas complexas, com uma campanha de desprestígio que ainda não terminou. Ele preferiu o silêncio e também avançar em novas provas. Até que colocaram em dúvida a existência da sua pesquisa. "Eles acham que podem sujar 30 anos de carreira facilmente. São hipócritas, capachos das corporações, mas têm medo. Sabem que não podem tapar o sol com a peneira. Há provas científicas, e, sobretudo, há centenas de povos que são a prova viva da emergência sanitária".
 
Na Justiça
Há 20 dias, quando o jornal Página/12 divulgou a sua pesquisa, nenhuma empresa nem meio de comunicação do setor retomou o tema. Mas, três dias depois, conheceu-se outro fato, inesperado: a Associação dos Advogados Ambientalistas apresentou um amparo judicial à Corte Suprema de Justiça, pelo qual solicitou a proibição de uso e venda até que os efeitos do produto na saúde e no ambiente sejam investigados. As empresas acenderam a luz amarela e começaram a divulgar comunicados, alarmadas pela possível queda de rentabilidade. Cinco dias depois, na segunda-feira, 20, o Ministério da Defesa proibiu a semeadura de soja em seus campos, fazendo eco ao efeito nocivo do agrotóxico. Foi um fato político inédito, uma pasta nacional alertou sobre os males dos agroquímicos.
Nesse momento, empresas, câmaras do setor, meios de comunicação e operadores políticos declararam o alerta máximo. Nunca antes as multinacionais do agronegócio e seus porta-vozes haviam reagido tão violentamente. Durante toda a semana montaram uma campanha em defesa dos agrotóxicos e, ao mesmo tempo, de desprestígio às vozes críticas. O temor dos defensores dos agronegócios é a proibição de seu agrotóxico mais famoso, um dos químicos emblema do modelo agropecuário atual.
 
Você esperava uma reação como a que ocorreu?
Não. Foi uma reação violenta, desmedida e suja. Sobretudo porque não descobri nada novo, só confirmei algo a que outros haviam chegado por outros caminhos. Por isso, não entendo porque tanta agitação das empresas. É preciso lembrar que a origem do trabalho remonta a contatos com comunidades vítimas do uso de agrotóxicos. Elas são a prova mais irrefutável do que eu investiguei com um sistema e modelo experimental com o trabalho de 30 anos, e com o qual eu confirmei que o glifosato é devastador em embriões anfíbios. Mesmo em doses muito abaixo das usadas na agricultura, ocasiona diversas e numerosas deformações.
 
Os resultados são extrapoláveis à saúde humana?
Os modelos animais de vertebrados que hoje são usados na pesquisa embriológica têm a mecânica do desenvolvimento embrionário precoce e uma regulação genética comum. Os resultados devem ser considerados extrapoláveis quando um impacto externo os altera. O mundo científico sabe disso, e os funcionários dos ministérios também. Por isso, quando encontrei essas evidências, surgiram duas questões a serem resolvidas: como continuar a pesquisa para saber qual é a mecanística de um efeito que altera a forma normal do embrião, o que está em marcha. E a outra decisão era como dá-la a conhecer.
 
Por que a difusão se transforma em um problema?
Porque não há canais institucionais confiáveis que possam receptar pesquisas desse tipo, com poderosos interesses contrários. Então, a decisão pessoal foi torná-la pública, já que não existe razão de Estado, nem interesses econômicos das corporações que justifiquem o silêncio quando se trata da saúde pública. É preciso deixar claro: quando se tem um dado que só interessa a um círculo pequeno, podemos guardá-lo até que o tenhamos ajustado até o menor detalhe e canalizá-lo pelos meios para esse pequeno círculo. Mas quando demonstramos fatos que podem ter impacto na saúde pública, é obrigação dar-lhe uma difusão urgente e massiva.
 
É uma prática comum difundir um avanço científico antes de ser publicado em uma revista científica?
É algo totalmente comum. No país, há instituições que todos os dias difundem seus progressos científicos, que até possuem agentes de imprensa que difundem os avanços. Ninguém os questiona, e os meios de comunicação os replicam sem perguntar. Difundem progressos, sem papers, sem publicações, e está muito bem. Mas, claro, essas difusões não afetam interesses de grupos poderosos.
 
Mas existe uma tensão no âmbito científico sobre quando dar a conhecer um avanço.
A tensão é se a divulgação deveria esperar ser "aprovada" (reforço as aspas, porque é todo um tema à parte, que leva anos). Agora, se a pesquisa tem implicâncias além do acadêmico, se afeta a sociedade, o dilema moral é se eu a guardo até que termine o menor detalhe, e meu narcisismo esteja satisfeito, ou dou o alerta. Eu decidi dar o alerta e insisto que não é nada novo, há antecedentes claros como Robert Belle e Gilles-Eric Seralini, que fizeram estudos com outros modelos, publicados e com resultados mais importantes do que os meus. O que as instituições tinham que fazer em vez de me atacar, como está acontecendo com alguns funcionários e as empresas, é se informar e começar a trabalhar para remediar o ocorrido.
 
As empresas e os meios de comunicação dos agronegócios defendem que não há estudos sérios.
Há pesquisas em diversas partes do mundo, e são muito sérias, como as que eu acabo de mencionar. As empresas e seus jornalistas empregados desqualificam uma pesquisa, mas, ao mesmo tempo, não escutam a catarata de quadros médicos palpáveis nas zonas de soja. As províncias estão cheias de vítimas de agrotóxicos, mas os jornais não querem chegar aí, e muito menos as empresas responsáveis. Não entendo por que meu relato tem mais importância que o dasMães de Ituzaingó (bairro dos arredores de Córdoba, emblema da contaminação com agroquímicos). Os médicos das províncias estão denunciando há anos, os agricultores e os bairros urbanos também. E fica tudo silenciado. É uma evidência da realidade e é incontestável. Eu me inspirei nessa realidade, e os resultados são os conhecidos. As empresas do agronegócio, os meios de comunicação, o mundo científico e os dirigentes políticos são basicamente hipócritas com relação às consequências dos agrotóxicos, protestam e desqualificam uma simples pesquisa, mas não são capazes de observar as inumeráveis evidências médicas e reclamações em Santiago del Estero, Chaco, Entre Ríos, Córdoba e Santa Fe.
 
Que outros trabalhos existem?
Belle e Seralini na França. Também há trabalhos da Universidad Nacional del Litoral e de pesquisadores comoAlejandro Oliva, de Rosario, que contou com a colaboração do INTA [Instituto Nacional de Tecnología Agropecuária] e da Federación Agraria. Há estudos dos doutores Rodolfo Páramo (Santa Fe) e Darío Gianfelici (Entre Ríos). Não são muitos, mas existem, são sérios e estão disponíveis.
 
Por que o setor científico não estuda?
Porque não é em todo o mundo que há essa enorme quantidade de hectares com soja como ocorre na Argentina. Há quase 18 milhões de hectares. Do ponto de vista ecotoxicológico, o que acontece na Argentina é quase um experimento em massa.
 
Tentou-se deslegitimar a sua pesquisa dizendo que a UBA e o Conicet não sabiam do seu trabalho.
A UBA e o Conicet são organismos de gestão, não têm por que conhecer tudo o que eu faço ou o que todos os seus pesquisadores fazem. Está dentro de nossas faculdades definir as linhas de trabalho, investigar e dar a conhecer resultados. É a lógica da pesquisa. Por isso, eu não tenho que pedir autorização para iniciar uma ideia ou um tema novo, e eles não têm por que conhecer isso, porque a ciência não funciona com organismos fiscalizadores dos temas que escolhemos. Faz parte da liberdade acadêmica, nos movemos por hipóteses, perguntas e desenvolvemos pesquisas. Também se disse que o Conicet, como instituição, não assinou embaixo da minha pesquisa. E é verdade, porque eu não pedi isso, e ele não tem por que assiná-lo no marco de uma ideia nova dentro da amplitude de um projeto. É o que acontece em centenas de pesquisas que se realizam. Que fique claro: o Conicet não tem responsabilidade sobre as minhas decisões. É uma decisão pessoal, como corresponde, não institucional. E está dentro das minhas faculdades. Também não se requer autorização institucional para desenvolver pesquisas, mesmo que saibamos que algumas sofrem mais resistência do que outras.
 
São públicos os convênios entre o Conicet e a mineradora Barrick Gold, e também com a Monsanto, com a qual até contavam com um prêmio de pesquisa conjunto ("Animarse a Emprender"). As pesquisas que podem ser críticas com esses setores são menos bem-vindas do que outras?
(Sorri). Prefiro não responder.
 
O senhor poderia investigar para a Monsanto?
Sim. O Conicet e a UBA permitem. E mais, muitos cientistas trabalham há anos para empresas de biotecnologia sob a figura de assessor-consultor, pela qual o Conicet permite até 12 horas semanais que seus pesquisadores forneçam serviços ao setor público ou privado.
 
Acusa-se a sua pesquisa de não estar validada em uma publicação científica.
É uma artimanha barata, de quinta categoria, que só mostra o temor das empresas. No mundo científico, é sabido que a validação de um trabalho não se dá por sua publicação em uma revista do setor. E mais, os cientistas são testemunhas de erros e inclusive de fraudes que são publicados em revistas especializadas. Muitas vezes, publica-se algo e depois se demonstra que é errôneo. E, por outro lado, muitas vezes há investigações que não são publicadas não porque sejam ruins, mas porque a revista não se interessa, seja por linha editorial ou por interesses em jogo. Um exemplo pessoal: em 1984, descobrimos genes muito importantes para o desenvolvimento embrionário, genes Hox. Publiquei dois papers na Cell, uma das melhores revistas do mundo, e havia quem acreditava e quem não. Tiveram que passar anos para que a comunidade científica os validasse.
 
O Laboratório de Embriologia é dependente do Conicet. Seu trabalho tem que ser validado pelo Conicet?
Que fique claro, por favor: nem o Conicet, nem um comitê editorial validam pesquisas. O que eles fazem é avaliar a evidência que apresentamos e julgam a solidez a partir da apresentação. Eles não têm maneira de verificar os resultados de forma prática. A única certeza de uma validação se dá em que outros pesquisadores podem repetir de forma sistemática, e até aperfeiçoada, os resultados da investigação realizada.
 
Quando vai compartilhar seu trabalho para colocá-lo em discussão na comunidade científica?Em breve. Devo terminar alguns ensaios e estará pronto. O que eu mais quero é passá-lo aos colegas, pesquisadores que repliquem o trabalho. De fato, já o compartilhei com pares do país e do exterior. Desde já, deviam ser estudos independentes, não os previstos pelas corporações ou espaços do Estado a seu serviço.
 
A Monsanto poderá replicá-los?
Se contratar pesquisadores idôneos, sim. Não tenho dúvida de que os tem, e todos sabemos a quais resultados chegarão.
 
Como continuará a pesquisa?
Já confirmamos as más-formações. Agora, estamos avançando em conhecer qual é o mecanismo de ação, é um passo a mais. Como é um trabalho científico, continuarei com o grau de liberdade acadêmica de que disponho, tentando ver quais são as causas mecanísticas e moleculares das observações feitas para publicar os resultados. Aparte do anfíbio que nos serve de modelo, estenderemos os experimentos a outros modelos de desenvolvimento embriológico, como aves.
 
Pode acontecer que, com essas novas provas, os resultados difundidos – de más-formações – não se repitam?
Não há como. Porque foram experimentos controlados, nos quais fomos rigorosos. E, além disso, porque já há evidência científica que vai nesse sentido. Por isso, insisto, não descobrimos nada novo. Eu cheguei a um resultado e acredito nele. Se a comunidade científica chegar a outra conclusão, bem-vinda seja. O centro do problema não deveria ser essa investigação. Seria querer tapar o sol com a peneira. Eu só trouxe um ponto a mais à discussão. Mas há setores que querem encerrá-la, nem sequer por convencimento ideológico, só por conveniência econômica.
 
Acusa-se o seu trabalho de usar um método errôneo com o glifosato, e que, por isso, os resultados são devastadores: que as concentrações da experiência nunca são as que eventualmente um humano poderia receber ao ser aplicado no campo. Houve quem mencionasse que "se colocarmos gasolina no copo de leite, claro que ocasionará intoxicações, e nem por isso se proibirá o combustível".
Esse tipo de afirmação tem várias facetas. Por um lado, mostra desconhecimento biológico, o que é entendível para quem não se dedica a esse ramo da ciência. Mas, na boca dos porta-vozes das corporações, também mostra uma intencionalidade distante da inocência, com intenções de desprestigiar uma estratégia de análise mundialmente aceita. Então, sim, me parece uma comparação pouco séria, maliciosa e hipócrita. É sabido, tanto na comunidade científica quanto no setor agropecuário, que a aspersão do herbicida afeta ecossistemas, operando direta ou indiretamente sobre insetos e outras espécies animais quando se colocam em contato com o herbicida. Ou seja, além de células vegetais, também afetam organismos compostos por células animais. Nossas experiências alertam que tanto o coquetel comercial como a droga pura em células animais geram alterações do desenvolvimento embrionário.
Portanto, o glifosato dentro da célula embrionária altera o funcionamento celular, tal como ocorre nas células vegetais das ervas daninhas. Por outro lado, já está provado que os herbicidas se transladam pela ação do vento. É uma prova da realidade, incontestável, o padecimento de famílias de campos limítrofes ou de bairros próximos às fumigações. Portanto, o glifosato pode atravessar barreiras respiratórias ou placentárias e entrar nas células embrionárias, inclusive existem avanços científicos nessa direção, como também existem registros de glifosato e de seus possíveis metabolitos presentes em mulheres grávidas. Isso poderia se correlacionar com potenciais efeitos de má formação. Portanto, desentranhar se o glifosato puro injetado tem efeitos sobre o comportamento de células embrionárias animais durante o desenvolvimento era inevitável em uma estratégia experimental correta, e insisto que utilizei uma estratégia de análise clássica da pesquisa científica.
 
Acredita que deve se proibir o glifosato?
Em meu trabalho, eu não proponho isso. E não é da minha competência propor uma medida desse tipo. A única coisa que eu afirmo, respaldado em 30 anos de estudo na regulação genética embrionária, é que esse produto gera alterações no desenvolvimento, estou certo disso.
 
Seus resultados não correspondem com a classificação do Senasa [Servicio Nacional de Sanidad y Calidad Agroalimentaria] ou as recomendações da Secretaria da Agricultura.
É um claro problema deles, que o classificam como de baixa toxicidade. Todo o contrário do que os diversos estudos afirmam, que confirmam a alteração de mecanismos celulares e, sobretudo, contrário ao que as famílias de uma dezena de províncias padecem. É loucura pensar que não acontece nada.
 
Dado seu trabalho no Ministério da Defesa, vincularam sua investigação a uma operação do governo contra as entidades patronais do campo.
Nenhuma pessoa séria poderia pensar nessa possibilidade. Por um lado, ninguém com 30 anos de trabalho acadêmico colocaria em risco essa trajetória. Por outro, é um fato da realidade, o governo não pediu, não acredito que queria e nem possa proibir o glifosato. Alguns meios inventaram essa conspiração, uma jogada de má intenção. De fato, sofremos algumas pressões desde o centro do oficialismo. Por isso, ninguém pode me dizer que é uma operação do governo.
 
Que funcionários o pressionaram?
Prefiro, agora, não dar seus nomes.
 
Além dos funcionários que impulsionaram e defendem os agronegócios – sobretudo na Secretaria da Agricultura –, existem altos funcionários ligados ao setor das biotecnologias e que impulsionam os agrocombustíveis, uma segunda "sojização".
Não vou dar nomes. Mas, em vez do confronto ou da pressão, se deveria aprofundar os resultados, formar equipes interdisciplinares. A reação mais razoável, a mais científica, a mais humana teria sido essa, sobretudo se há um sinal de alerta sobre uma questão relacionada com a saúde humana. A reação lógica teria sido aprofundar as pesquisas, estudar a diferença entre biodegradabilidade e decomposição, as diferentes vias de penetração, revisar a normativa de uso e controlar os efeitos sobre a saúde humana de maneira sistemática. Mas se privilegiarmos os negócios, não avançaremos com novos estudos.
 
* Instituto Humanitas Unisinos

Fonte: Caros Amigos