quinta-feira, 9 de maio de 2013

Quase cem filhotes de 'tartaruga de pente' são soltos em praia de Maceió

Crianças e adolescentes se emocionaram com a soltura das tartaruguinhas.
Instituto Biota se esforça para garantir a vida desses animais.


 
Após serem soltos, filhotes de tartaruga correm direto para o mar. (Foto: Fabiana De Mutiis/G1)

 
Na tarde desta quinta-feira (18/04), 92 filhotinhos de tartaruga de pente foram soltos na praia de Riacho Doce, em Maceió. Adultos, crianças e adolescentes que se reuniram no local para assistir ao nascimento deles, se emocionaram ao ver os filhotes correndo em direção ao mar.
No final de fevereiro, Bruno Stefanis e a equipe do Instituto Biota encontraram um ninho com 113 ovos. Eles demarcaram o local "discretamente" e passaram a monitorá-lo. "Nasceram 92 tartarugas, o que é uma taxa de natalidade muito boa", explica o biólogo Bruno Stefanis.
 
De mil filhotes, apenas um chega à fase adulta, de  acordo com biólogos. (Foto: Fabiana De Mutiis/G1)

 
Mas para um animal desses chegar à fase adulta, precisaria de mais nove solturas como essa. É que de mil filhotes apenas um atinge a maturidade. Isso faz parte da cadeia alimentar, mas, infelizmente, muitas tartarugas adultas morrem por conta da poluição. "Elas se alimentam de algas muito parecidas com um plástico. Então, quando elas ingerem o plástico, não conseguem expeli-lo e morrem", diz Bruno.
 
A praia de Riacho Doce estava cheia de sargaço, e no meio das algas, tinha copos plásticos, canudos, sacolinhas plásticas e outros tipos de lixo. Jovens voluntários limparam o caminho para que as tartaruguinhas conseguissem chegar mais rápido ao mar.
 
Um grupo de jovens estudantes viu na internet que haveria a soltura de tartarugas e pegou um ônibus até Riacho Doce para acompanhar a ação. Eles se entusiasmaram. Álvaro dos Santos,19, adorou a experiência. "Fiquei impressionado vendo a natureza agir por si mesma, foi incrível", diz.
 
Voluntários limpam trecho que será percorrido pelas tartarugas (Foto: Fabiana De Mutiis/G1)
 
O Instituto Biota sempre faz este trabalho, inclusive, na hora da soltura, os biólogos chamam as crianças e a população para participar. É uma forma de conscientizar a população da importância de preservar a natureza. Mas o Biota não conta com nenhuma ajuda do governo de Alagoas. A equipe de dez pessoas conta com a ajuda de comerciantes locais e com voluntários que doam material para ser usado na captura. "Isso aqui é Patrimônio Natural e é o Estado quem deveria cuidar. A gente faz o trabalho por amor ", diz Bruno Stefanis.
 
Fonte: G1

EUA: caracóis gigantes invadem casas na Flórida

Caramujo Gigante Africano (Achatina fulica)
 
O estado americano da Flórida precisa lidar com uma infestação de caracóis gigantes que invadiram as casas. Os moluscos foram descobertos pela primeira vez no sul da Flórida em 2011 por um morador, segundo o Departamento de Agricultura. Desde então, mais de 117 mil exemplares foram encontrados e a cada semana cerca de 1 mil são capturados.
 
Denise Feiber, porta-voz do Departamento de Agricultura, disse à NBC News que, apesar da aparência amigável, o molusco representa perigos para o ecossistema e para os moradores da região. “Eles são enormes e parecem que estão olhando, se comunicando com você. (…) As pessoas apreciam eles por isso”, disse. “Mas as pessoas não percebem a devastação que eles podem criar”,
alertou.
 
 
Caramujo Gigante Africano (Achatina fulica)

 
O caracol gigante africano (Achatina fulica) é um molusco terrestre e uma das cem espécies invasoras mais perigosas do planeta, segundo a União Internacional para Conservação da Natureza. O molusco pode medir cerca de 30 centímetros e colocar mais de 1 mil ovos por ano.
 
Achatina fulica e seus ovos.
 
No Caribe, o caracol já tomou estradas, gramados e residências, resultando em danos para os pneus de carros, sem mencionar as manchas nas paredes das casas. Mas isso não é o maior problema. O molusco consome cerca de 500 espécies de plantas e pode hospedar o parasita angiostrongylus cantonesis, que causa meningite. De acordo com Feiber, nenhum caso da doença foi registrado nos Estados Unidos, mas as autoridades estão em alerta.
 
Ainda não há dados concretos sobre como o caramujo africano foi introduzido nas Américas, mas alguns acreditam que comerciantes que queriam desenvolver produtos cosméticos à base de secreções produzidas pelo animal foram responsáveis pela invasão. Também é possível que eles tenham sido levados para a região como mascote. (Fonte: Terra)

Fonte: Ambiente Brasil

segunda-feira, 6 de maio de 2013

'Morcego-panda' é identificado por pesquisadores na África

Animal tem manchas parecidas com as do panda, mas não tem parentesco. Novo gênero foi descoberto no Sudão do Sul, país africano criado em 2011.

 
 
Cabeça e rosto de espécie de morcego 'Niumbaha superba'
14/04/2013 | (Foto: Divulgação/ZooKeys)
 
Pesquisadores identificaram um novo gênero de morcegos no Sudão do Sul, país africano que se tornou independente em 2011 e é um dos mais "jovens" do mundo . Chamado de Niumbaha , o gênero foi descrito graças a um espécime coletado na região, que possui manchas e listras parecidas com as de um panda pela cabeça, rosto e corpo. Apesar da semelhança física, o morcego não tem parentesco com os pandas.
 
A descrição do novo gênero foi publicada na última semana pelo periódico científico "Zookeys". O exemplar recentemente coletado foi encontrado por uma cientista da Universidade Bucknell, nos Estados Unidos, e sua equipe. Ela identificou o animal junto com colegas do Museu Nacional de História Natural dos EUA e da Universidade Islâmica em Uganda, na África.
 
 
"Eu me senti imediatamente atraída pelos padrões de listras e manchas no morcego", disse a pesquisadora DeeAnn Reeder, uma das autoras do estudo, em entrevista ao site da Universidade Bucknell.
Após retornar aos Estados Unidos com um exemplar do morcego, ela percebeu que o animal era similar a outro capturado na República Democrática do Congo em 1939, mas batizado há anos como Glauconycteris superba . DeeAnn e seus colegas avaliaram que o animal novo não se encaixava ao gênero ao qual estava "alocado", o Glauconycteris .
"Suas características de crânio, de asas, o tamanho, as orelhas - praticamente tudo que você vê no novo animal não se encaixa [com o gênero anterior]. Este animal é tão único que decidimos criar um novo gênero", disse DeeAnn à Universidade Bucknell. Com a criação da nomenclatura, a espécie do animal coletado no Sudão do Sul foi rebatizada para Niumbaha superba .
 
 
"Para mim, a descoberta é importante porque joga luz na importância biológica do Sudão do Sul e traz pistas de como a nova nação tem coisas importantes a serem encontradas. Há muito o que conhecer e há muito o que proteger no Sudão do Sul", disse o cientista Matt Rice, um dos autores da pesquisa, ao site da Universidade Bucknell.
O nome Niumbaha quer dizer "raro" em zande, língua do povo na região onde o morcego foi encontrado.
 
Fonte: G1

"Tatuzão" extinto há 10 mil anos viveu na Serra da Gandarela

Por Carlos Calaes
 
 
Uma paleotoca, buraco onde tatus gigantes se abrigavam há cerca de 10 mil anos, foi identificada pelo paleontólogo paulista Francisco Buchmann, da Unesp/São Vicente, na Serra da Gandarela, a pouco menos de 40 quilômetros de Belo Horizonte.

Os tatus gigantes viveram na América do Sul por milhões de anos e fazem parte da Megafauna Pleistocênica Sul-Americana. Esses animais chegavam a pesar 250 quilos, com vários gêneros e muitas espécies.

A descoberta do professor Buchmann, que identificou cerca de 500 paleotocas no Sul do país, aconteceu em março do ano passado. “Posso atestar que há, na Gandarela, pelo menos uma”, disse.


Pelo menos uma cavidade subterrânea (acima) existe sob a serra, segundo pesquisador


Exploração

O abrigo dos tatus gigantes fica na área onde, desde 27 de fevereiro de 2009, a mineradora Vale tenta instalar o Projeto Apolo. A empresa requereu licença prévia para mineração junto ao Conselho Consultivo da Área de Proteção Ambiental Sul (Apa-Sul) da Região Metropolitana de Belo Horizonte. A paleoteca deu novo ânimo aos preservacionistas que pedem a criação do Parque Nacional da Gandarela. Eles acionaram o Ministério Público e a concessão do licenciamento foi travada.

Segundo o Movimento Pró-Gandarela, a Vale teria comunicado ao conselho a intenção de realizar sondagens para obter amostras minerais em dois locais. A proposta da empresa seria retirar 16.500 toneladas do “ponto 1” e 19.200 toneladas do “ponto 2”. O material seria levado em caminhões para a Mina de Brucutu, onde passaria por um teste industrial.

A Vale confirmou que fez estudos espeleológicos na região da Serra da Gandarela. As cavidades naturais subterrâneas identificadas, segundo a mineradora, foram classificadas conforme estabelecido pela Instrução Normativa 2/2009.

A Vale afirma que as cavidades de “máxima relevância” serão integralmente preservadas, atendendo à legislação vigente. Todos os estudos técnicos elaborados foram protocolados nos órgãos ambientais competentes (Supram e Ibama), que teriam realizado várias vistorias na área do empreendimento, inclusive nas cavidades subterrâneas.
Fonte: R7 - Hoje em Dia

Pesquisadores da USP desenvolvem cimento ecoeficiente

Por Elton Alisson
 
Agência FAPESP – Uma tecnologia desenvolvida por pesquisadores da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP) pode auxiliar a indústria cimenteira a atingir dois objetivos: dobrar a produção de cimento para atender a demanda mundial e diminuir a pegada de carbono, uma vez que o setor é um dos que mais emitem dióxido de carbono (CO2) na atmosfera.
 
Os pesquisadores criaram uma formulação que substitui grande parte do material responsável pela emissão de CO2 na fabricação do produto, diminuindo a concentração de material reativo produzido a altas temperaturas na composição de cimentos e, consequentemente, na de concretos e argamassas de revestimento, mantendo a resistência dos materiais.
 
A tecnologia foi testada em laboratório e despertou o interesse de empresas, que analisam a viabilidade do uso em escala na fabricação do material – o segundo mais produzido e consumido no mundo, atrás apenas dos alimentos.
 
“Em alguns experimentos em laboratório conseguimos reduzir em mais de 70% a quantidade de ligante [fração do cimento com capacidade de reagir com água] em concretos de alta resistência com um produto feito com a formulação”, disse Vanderley Moacyr John, professor do Departamento de Engenharia de Construção Civil da Escola Politécnica da USP e um dos coordenadores do projeto. “Recentemente, conseguimos adaptar a formulação para concretos de mais baixa resistência com
metade do ligante usado em um produto convencional.”
 
De acordo com o pesquisador, que conduziu um projeto com apoio da FAPESP, o cimento tradicional – chamado Portland – é composto basicamente por argila e calcário – materiais extraídos de jazidas, posteriormente moídos e que, quando fundidos em fornos a 1,5 mil graus Celsius, se transformam em pequenas bolotas de clínquer. Esses grãos de clínquer são misturados e moídos com gipsita – a matéria-prima do gesso – até virarem cimento.
 
Para produzir uma tonelada de clínquer, no entanto, a indústria cimenteira emite entre 800 e mil quilos de dióxido de carbono, incluindo aí o CO2 gerado pela decomposição do calcário e pela queima do combustível fóssil para manter os fornos em funcionamento.
 
A fim de diminuir as emissões de CO2 na produção de clínquer, nas últimas décadas as indústrias cimenteiras começaram a substituir parte do material por escória de alto-forno – um resíduo da siderurgia – e, mais recentemente, por cinza volante – resíduo de termelétricas a carvão.
 
O problema dessas duas soluções, contudo, é que a indústria do aço – também altamente emissora de CO2 – e a geração de cinza volante não crescem na mesma velocidade das cimenteiras, inviabilizando as estratégias no longo prazo. “As estratégias utilizadas hoje para mitigar as emissões de CO2 pela indústria cimenteira são insuficientes”, avaliou John.
 
“Como a escala de produção de cimento é de 3,5 bilhões de toneladas por ano e estima-se que a produção global desse material chegará a 5,5 bilhões anuais até 2050, as indústrias cimenteiras poderão ser responsáveis por até 30% do total das emissões mundiais de CO2, superando muitos países isoladamente”, disse.
 
Pó de calcário
Segundo o professor da Poli-USP, por causa dessas limitações, a indústria cimenteira também usa desde a década de 1970 outro material candidato a substituir parcialmente o clínquer na formulação de cimento: o filler de calcário cru (pó de calcário).
 
O filler é uma matéria-prima que dispensa tratamento térmico (calcinação) – processo que, na fabricação de cimento, é responsável por mais de 80% do consumo energético e 90% das emissões de CO2.
 
A quantidade de filler na fórmula do cimento, contudo, era limitada a, no máximo, 10% no Brasil e em até 30%, em algumas situações, na Europa. Isso porque o calcário é moído junto com o cimento e, como não há controle do tamanho das partículas do material, seu limite de adição é baixo.
 
Por meio de tecnologias de controle de granulometria de partículas, já usadas em indústrias como a alimentícia e farmacêutica, os pesquisadores da Poli demonstraram em laboratório que combinando granulometrias de pó de calcário é possível aumentar para 70% a proporção do material e diminuir para 30% a quantidade de clínquer na composição do cimento.
 
“Atualmente, o teor de filler no cimento comercializado no mundo é de 6% e, no Brasil chega, no máximo, a 10%. Já na Europa, em algumas situações, uma tonelada de cimento tem 700 quilos de clínquer e 300 quilos de filler [incluindo outros tipos de filler, além do de calcário cru]”, comparou
 
Bruno Damineli, um dos autores da pesquisa e que realiza pós-doutorado na Poli no âmbito do projeto.
 
“Demonstramos que é possível inverter essa composição e produzir uma tonelada de cimento com 300 quilos de clínquer e 700 quilos de pó de calcário”, disse.
 
Além de um padrão controlado do tamanho de grãos, segundo o pesquisador, as partículas de filler de pó de calcário e clínquer precisam receber aditivos químicos dispersantes, como policarboxilatos, que impedem que elas se aglomerem e formem grumos na água.
 
Como consequência disso, o dispersante reduz a quantidade de água e de cimento necessário para misturar à areia e pedra para produzir e desempenhar o papel de “cola” no concreto usado na indústria da construção civil.
 
“Os cimentos menos eficientes de modo geral apresentam grumos. Por causa disso são menos reativos e eficientes e requerem uma quantidade muito maior de água para fluir, porque são mais porosos”, explicou Rafael Pileggi, professor da Poli e um dos autores do projeto.
 
“Como o cimento com mais filler moído precisa de pouca água para fluir, é possível fazer um concreto pouco poroso e mais resistente do que o convencional”, disse Pileggi.
 
Os pesquisadores também obtiveram resultados semelhantes com outros produtos à base de cimento. Por meio do projeto realizado atualmente com apoio da FAPESP, o grupo de pesquisadores da Poli observou que também se pode reduzir o teor de cimento em argamassa de revestimento (reboco), mantendo a resistência de aderência do material.
 
“Constatamos que é possível reduzir a quantidade de cimento de argamassa pelo cimento com maior teor de filler moído e que a resistência do material não cai. Estamos demonstrando que a resistência não depende do cimento”, disse John.
 
Viabilidade técnica
A nova formulação de filler com granulometria controlada, combinada com o uso de dispersantes, abre a janela para produção de cimento com até 70% do material em sua composição, sem perder e até mesmo aumentar a confiabilidade do produto. Dessa forma, a tecnologia permitiria à indústria dobrar a produção de cimento, sem a necessidade de construir mais fornos ou produzir mais clínquer.
 
O grande desafio, no entanto, é viabilizar a tecnologia na escala da indústria cimenteira e de forma competitiva. “A tecnologia para moer partículas com granulometria controlada já existe, mas nunca ninguém a operou na escala da indústria cimenteira”, afirmou John.
 
“Será preciso produzir entre 2 e 3 bilhões de toneladas de filler com partículas com tamanho controlado e mais finas do que talco”, comparou.
 
Segundo os pesquisadores, vários materiais podem ser usados para produzir filler. O pó de calcário, no entanto, atualmente é o melhor candidato para substituir parcialmente o clínquer na formulação de cimento porque oferece menores riscos à saúde do que outros fillers biopersistentes.
 
Há outros grupos tentando utilizar quartzo finamente moído para essa finalidade. Entretanto, se usado de forma descontrolada, o material pode ser aspirado e causar silicose.
 
“Não é qualquer material finamente moído que pode ser utilizado para esse fim. É preciso levar em conta questões como a segurança do trabalhador da indústria da construção”, disse Damineli.
 
A tecnologia desenvolvida pelos pesquisadores da USP despertou o interesse de empresas como a InterCement, a holding para negócios de cimento do grupo Camargo Corrêa. A empresa financia a reforma de um prédio no Departamento de Construção Civil da Poli para sediar um centro de pesquisa em construção sustentável. Coordenado pelos professores John e Pileggi, o centro de pesquisa deverá iniciar suas atividades ainda este ano e, entre outras atividades, deverá avançar no desenvolvimento do cimento ecoeficiente.
 

Como andam seus telômeros?

Em sua coluna na CH de abril, o bioquímico Franklin Rumjanek fala sobre estudos que mostram impactos do estresse crônico em nível molecular.


 
Por: Franklin Rumjanek*
 
Estudos recentes mostraram que, além das marcas mais visíveis no corpo, o estresse crônico nos afeta em nível molecular, encurtando o tamanho dos telômeros, o que parece valer também para outros animais. Os telômeros são as regiões que se encontram nas extremidades dos cromossomos. 
 
Devido às peculiaridades da enzima DNA polimerase envolvida na duplicação do DNA, que ocorre antes da divisão celular, se não houver ajuda de outra enzima, a telomerase, haveria um encurtamento progressivo dos cromossomos à medida que as gerações de células se sucedessem. Se isso ocorresse, os cromossomos atingiriam prematuramente um limite crítico de tamanho que os tornaria instáveis, o que comprometeria o funcionamento das células e as levaria à morte.
 
Sem a telomerase, a DNA polimerase só é capaz de realizar a replicação até quase o final da cadeia, deixando um pequeno trecho sem cópia nova. A telomerase evita essa situação esticando um pouco mais as extremidades do DNA, o que permite então a duplicação integral das cadeias.
 
Entretanto, nem mesmo a telomerase evita que, ao longo da vida de um indivíduo, o DNA vá diminuindo gradualmente. Esse processo (a diminuição dos telômeros) é um entre tantos outros que refletem em nível molecular o desgaste ocorrido nas células e que leva à parada de suas funções.
 
A telomerase comporia assim um sistema de reparo do DNA, mas nem sempre atuante. Ou seja, as nossas células seguem ao longo de suas vidas um programa que compreende o equilíbrio entre reações de preservação e de desgaste do material genético. No final, prevalece o desgaste e a senescência ddecorrente.


Os telômeros são sequências repetitivas de DNA que protegem as extremidades dos cromossomos da mesma forma que ponteiras plásticas protegem as pontas de cadarços. Seu encurtamento e desgaste sinalizam a senescência. (imagem: Wikimedia Commons)
 
Vulnerabilidade ao ambiente
Alguns dados da literatura científica destacam o fato de que esse programa de vida das células pode ser alterado diretamente por fatores externos, como o estresse gerado pela simples interface formada entre o indivíduo e o seu ambiente mais imediato. Estamos assim diante de uma situação nova, na qual se percebe que os cromossomos, que acreditávamos estar alojados e protegidos nos núcleos das células, se revelam na verdade como entidades bem vulneráveis e sensíveis às intempéries ligadas a diferentes estilos de vida.
 
Essa associação foi mostrada por Elizabeth Blackburn e Elissa S. Epel num artigo recente da revista Nature que revela dados impressionantes. Por exemplo, mães que tiveram que cuidar de filhos doentes sem ajuda dos parceiros tinham telômeros mais curtos do que aqueles de mulheres de grupos-controle. Isso vale também para indivíduos expostos a ameaças constantes, como guerras e outros conflitos, problemas financeiros crônicos, maus-tratos e abandono, sobretudo em crianças.
 
Incidentalmente, o encurtamento precoce dos telômeros já foi demonstrado em crianças que frequentavam cursos de alfabetização, o que enfatiza a enorme importância de garantir que esse primeiro contato com a escola seja cuidadosamente planejado. Já se conhece o profundo efeito que o bullying tem na vida dos estudantes e não surpreenderia se suas vítimas apresentassem telômeros significativamente menores que seus colegas.
 
No artigo de Blackburn e Epel, há um diagrama que mostra também que o efeito do estresse é duradouro. Ao comparar os comprimentos dos telômeros de adultos que sofreram episódios traumáticos durante a infância, é possível notar que o encurtamento dos telômeros é diretamente proporcional à frequência destes ao longo da vida.
 
Mas nem tudo está perdido. Experimentos com camundongos mostram que o comprimento dos telômeros pode ser revertido, o que não só traz esperança para as vítimas do estresse como também revela uma ferramenta para avaliar o sucesso das terapias adotadas.
 
Fica evidente que, longe de ser o grande ditador, o genoma de um indivíduo é um parceiro bastante plástico, o que reforça a ideia de que a discussão nature x nurture (natureza x ambiente) está longe de ser resolvida.

Franklin Rumjanek
Instituto de Bioquímica Médica
Universidade Federal do Rio de Janeiro

Texto originalmente publicado na CH 302 (abril de 2013).
 
 

sexta-feira, 3 de maio de 2013

Vitória contra o amianto: Justiça decide a favor da vida e do meio ambiente

Conceição Lemes
 
A fazenda de São Félix, com 700 hectares, fica no município de Bom Jesus da Serra, no sudoeste da Bahia, a 410 km de Salvador.
 
O turista desavisado logo se encanta com este canyon com lago de águas esverdeadas, circundado por imensos paredões. Dá vontade de conhecê-lo melhor de barco, talvez até mergulhar; os apaixonados por pesca logo se perguntarão sobre os peixes que vivem aí.


 
Só que quem vê paisagem, não vê o seu coração.

Além de uma galeria subterrânea de 200 km de extensão, esse grande canyon é – acreditem! — o que restou da exploração da primeira mina de amianto no Brasil, a de São Felix, em Bom Jesus da Serra.

Até a década de 1930, o Brasil importava tudo o que consumia desse mineral cancerígeno. Em 1937, esse quadro começou a mudar com a fundação da Sama (Sociedade Anônima Mineração de Amianto) e a descoberta da mina de amianto de São Felix do Amianto.

Em 1939, começava aí a exploração do amianto no País. Em 1967, a mina foi fechada.
 
 
Durante esse período, a Sama, inicialmente explorada pelos franceses da Saint-Gobain/Brasilit, e mesmo depois (o sucessor em interesse atualmente é a empresa nacional Eternit S/A), não se preocupou com as condições de vida dos trabalhadores e habitantes do entorno da jazida. Tampouco adotou medidas para reduzir os prejuízos causados pela mineração e evitar a contaminação da água e do ar.
 
Em 2009, então, o Ministério Público Federal e o Ministério Público do Estado da Bahia entraram com uma ação civil pública contra a Sama (atualmente, chama-se S/A Minerações Associadas, que pertence ao grupo Eternit), por conta dos danos ambientais.
 
Em liminar, a Justiça Federal em Vitória da Conquista, Bahia, determinou à Sama a realização de uma série de medidas em defesa do meio ambiente e da segurança da população.
 
A Sama tentou anular a decisão no Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF-1).
 
Porém, por unanimidade, o TRF-1 ( processo nº 0031223-88.2009.4.01.0000), manteve a decisão de primeira instância.
 
 
A mineradora terá de realizar estudos técnicos para a elaboração do Plano de Recuperação de Área Degradada (PRAD).
 
Para isso, informa o Portal Poções, a Sama terá de presentar projeto ambiental pormenorizado, firmado por profissional habilitado e aprovado por técnicos do Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos da Bahia (Inema) e do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), com cronograma de execução e implantação.
 
Entre as medidas determinadas pela Justiça estão ainda:
 
* Isolamento da antiga mineradora com cercas de arame farpado, para impedir a entrada de pessoas não autorizadas.
 
* Sinalização da área com 30 placas informativas sobre o risco de danos à saúde do local.
 
* Recolhimento de resíduos de amianto espalhados na propriedade, observando-se todos os cuidados necessários.
 
* A empresa terá também de isolar todas as escavações provocadas pela atividade mineradora, onde se acumulam água, com muros de alvenaria ou pré-moldados com sinalização, indicando Atenção – Água imprópria para consumo humano.
 
“Aos poucos, o silêncio sobre os males do amianto vai sendo rompido”, comemora a engenheira Fernanda Giannasi, auditora-fiscal do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE),em São Paulo.
 
“Cada vez mais nossas autoridades públicas demonstram coragem para agir contra os perpetradores da maior tragédia ecossanitária industrial planetária de todos os tempos. Prova disso é a portaria assinada na sexta-feira 26 pelo procurador-chefe do Ministério Público do Trabalho (MPT), proibindo o amianto no âmbito do MPT.”
 
Atualmente, o Brasil é um dos maiores produtores (3º) e exportadores (2º) de amianto do mundo.
A extração, antes feita em Poções foi transferida para Minaçu, interior de Goiás, na divisa com o Tocantins. Aí fica a mina de Cana Brava, a única em exploração no Brasil.

Fonte: VioMundo
 
 


A invasão dos tucanos tocos: uma hipótese

Marcos Rodrigues*
 
 
Agrupamento de tucanos toco. Eles são vorazes e bons dispersores de sementes. Foto: Lilian M. Costa
 
Acordo bem cedo no dia do meu aniversário com o canto de quatro tucanos (Ramphastos toco) no alto da velha sucupira branca (Pterodon emarginatus) de 12 metros que sombreia o jardim. O som é um inconfundível roncar baixo e profundo em forma de trinado. Eles continuam roncando por vários minutos até perceberem minha presença insólita, de binóculos em punho e pijamas. Partem em revoada, naquele voo batido e ofegante, intercalado por um descaso rápido de asas e a inevitável caída de altura, até que as asas comecem a bater novamente. Tucanos não dominam a arte de planar, característica compartilhada por seus primos mais próximos, os pica-paus.

Os tucanos, na realidade, pertencem a um grupo de 34 espécies, a família Ramphastidae, de 6 gêneros (Ramphastos, Bailonius, Selenidera, Aulacorhynchus, Andigena, Pteroglossus). Todas estas espécies são endêmicas da região Neotropical, e todas elas restritas às florestas tropicais, com exceção desta que visita meu jardim, a Ramphastos toco. Ele é popularmente conhecido por tucanuçu ou tucano toco, e é também a maior espécie de tucano, podendo pesar 550 gramas. Seus hábitos alimentares são bastante heterodoxos, pois come de tudo um pouco. O tucano toco se aproveita da explosão de cigarras que acontece nas áreas urbanizadas dentro de toda a região do Cerrado; engole ninhegos vivos de bentevis (Pitangus sulphuratus) que abundam nas cidades durante a primavera; engolem coquinhos de palmeiras nativas como o jerivá (Syagrus romanzoffiana) e exóticas como a palmeira-imperial (Roystonea oleracea), que são plantadas como ornamentais nas grandes avenidas e condomínios residenciais do Brasil afora. Assim, o tucano toco é ao mesmo tempo um predador de aves indefesas, um controlador de insetos e um dispersor de sementes de plantas.

Saio de carro para o trabalho e tenho que dirigir por alguns quilômetros numa estrada que cruza uma matriz de fazendas de gado entremeada por condomínios residenciais semiurbanos, galpões de fábricas e aglomerados populacionais. Durante a viagem, um par de tucanos toco cruza os céus. Já no meu escritório, um colega me vem dizer que tem visto tucanos lá na sua terra, no interior, e quer saber se é normal. O telefone toca e uma repórter quer que eu dê uma entrevista sobre um casal de tucanos que nidificou num prédio abandonado próximo ao centro da cidade. Depois do almoço, um aluno me aborda para me reportar que vira um tucano em frente à mata da reitoria. Outro me passa um e-mail dizendo que está acompanhando um incrível ninho de tucanos feito sobre uma palmeira morta na frente da casa dele. Todos estes eventos e relatos intercalam-se no tempo e tornam-se cada vez mais frequentes. Afinal, há uma invasão de tucanos?
 
Contando tucanos
Recorro às minhas velhas e carcomidas cadernetas de campo, onde relato compulsivamente as observações mais banais que eu jamais pensaria que um dia se tornariam úteis. Assim, coloco em gráficos o número de observações que fiz de tucanos toco ao longo dos últimos dez anos. O primeiro é referente ao número de observações feitas ao longo da rodovia Fernão Dias, sentido Belo Horizonte-São Paulo e vice versa. Os dados aparecem muito esparsos e não mostram um padrão reconhecível. O segundo mostra as observações que fiz no campus da Universidade Federal de Minas Gerais, onde faço levantamentos periódicos de aves com ajudas dos alunos durante todo o ano letivo (portanto, os meses de dezembro a fevereiro praticamente não foram amostrados). O terceiro, e mais consistente, refere-se a levantamento de aves feito no vale do Rio Cipó, desde 1999, com metodologia mais específica e padronizada.

Os gráficos mostram que há uma leve tendência de crescimento de observações da espécie ao longo destes anos, o que seria uma evidência de que existe um crescimento populacional de tucanos toco. Depois de uma pesquisa no site de observadores de aves, o WikiAves, faço mais um gráfico para entender o suposto crescimento populacional da espécie.
Foto: Lilian M. Costa
 
As hipóteses

A evidência concreta para se afirmar que existe um aumento populacional de tucanos toco nos vinte últimos anos são fracas, e principalmente por um motivo: no Brasil não temos um programa de monitoramento populacional de aves em grande escala, como existe, por exemplo, nos EUA o ‘Christmas bird count’, na Inglaterra o ‘Breeding bird survey’ e na Austrália o ‘Australia bird count’, entre outros. Assim, a maior evidência para o crescimento da população de tucano toco no sudeste do Brasil ainda são os relatos de alunos, colegas, jornalistas e observadores de aves. Eu assumo aqui que há um aumento populacional do tucano toco em várias áreas do sudeste do Brasil, e uso argumentos coletados na cidade de Belo Horizonte para esboçar uma hipótese sobre as prováveis causas deste fenômeno.

1 - Desmatamento e aproveitamento de mais áreas.

O tucano toco é a única espécie adaptada à vida em áreas abertas de uma família de aves florestais. A expansão do desmatamento, tanto no centro-oeste quanto no sudeste do Brasil, estaria aumentando o habitat para esta espécie.

2 - Abundância de recursos alimentares – ninhos, cigarras, coquinhos, cevas.

O tucano toco tem dieta generalista, omnívora, isto é, se alimenta de vários itens, tão díspares como ninhegos de outras aves quanto invertebrados e frutos exóticos. Não há como negar a grande expansão populacional de sua presa favorita nas grandes cidades, o bentevi, que nidifica sobre transformadores de energia dos postes de iluminação pública. Observações de tucanos toco predando estes ninhos são cada vez mais frequentes no anedotário popular.

Durante a primavera, as cidades do centro-oeste e sudeste são tomadas pelo canto das cigarras, sendo a mais comum e maior a Quisada gigas. Estas cigarras, com ampla distribuição geográfica se adaptaram muito bem às cidades. Elas também atacam o cafeeiro, sendo até mesmo consideradas uma praga na região cafeeira do Sul do estado de Minas Gerais e Nordeste do estado de São Paulo. A Quisada gigas é atualmente um dos maiores invertebrados urbanos, chegando a 6 centímetros, o que fornece proteína em abundância para variadas espécies de aves, inclusive o tucano toco.

Diferentes espécies de palmeiras foram adotadas pelos urbanistas e administradores públicos para enfeitarem os jardins e avenidas de grande parte das cidades do Brasil. Isto se deu devido à facilidade de reprodução destas plantas; seu crescimento rápido; sua facilidade de ser translocada mesmo quando já atinge tamanho grande; o enraizamento não danificador de calçadas; o crescimento longilíneo que pouco atrapalha a fiação pública; e, finalmente, devido à sua beleza que nos remete a paisagens tropicais ensolaradas.

As espécies mais comercializadas são o jerivá e a palmeira imperial. O jerivá é palmeira nativa que originariamente ocorria na Mata Atlântica e matas ciliares do Brasil central. A palmeira imperial é originária das Antilhas, e as primeiras mudas que surgiram no Brasil são as famosas palmeiras plantadas por Dom João VI no Jardim Botânico do Rio de Janeiro. O tucano toco é um ávido comedor desses doces coquinhos, que abundam durante todo o ano. Entre 75 fotos postadas no WikiAves de tucano toco nas cidades de Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo e Ubatuba, 20 foram feitas enquanto indivíduos se alimentavam dos frutinhos da palmeira imperial. O tucano toco também se alimenta de outras espécies de frutos exóticos usados na decoração de praças públicas.

Colocar restos de frutas e sementes nos jardins e quintais das casas para atrair aves é um dos comportamentos que mais crescem nos últimos anos. Não existem dados sobre isso, mas os relatos são inúmeros.

As frutas mais usadas nestas cevas urbanas são o mamão, a banana e a maçã. O tucano toco é um grande apreciador de mamão, e há relatos de que se aproveita eventualmente deste recurso. Eu prevejo mais observações de tucanos toco se alimentando em cevas à medida que indivíduos aprendam a utilizar este recurso e transmitam a novidade às gerações seguintes.

3 - Aumento de cavidades para nidificação

O número de árvores grandes e com idade avançada aumentou naturalmente nos últimos anos. Em Belo Horizonte, por exemplo, que nasceu num canteiro de obras totalmente devastado, hoje, as poucas praças e jardins públicos da cidade são dotadas de árvores de grande porte e isso se aplica a grande parte das cidades do sudeste e centro-oeste do Brasil, inclusive Brasília. Nos últimos anos, temos assistido a inúmeros casos de tempestades e ventos com intensidade acima da média histórica, possivelmente como resposta às mudanças climáticas que vêm ocorrendo no planeta. Isso causa queda de árvores, e mais do que isso, quebra de galhos grossos, cuja consequência é deixar largas cavidades nos troncos destas árvores. Belo Horizonte vem sistematicamente sofrendo estas quedas e quebras de galhos de árvores todos os últimos verões. Estas cavidades vêm sendo usadas para nidificação pelos tucanos toco, como por vezes já pude observar.

Os fatores listados acima agem em sinergia e devem estar associados ao aumento populacional de tucanos nos grandes centros urbanos do Brasil. É uma hipótese a ser testada. De qualquer forma, este aumento em algumas regiões tem importantes implicações ecológicas. O tucano toco é um predador de aves e como dispersor de sementes. Para muitas regiões já alteradas, onde a maioria das aves que se alimentam de frutos foi localmente extinta, o tucano toco, pelo grande porte, é dos poucos capazes a dispersar sementes grandes que, de outra forma, estão órfãs de seus dispersores.

*Texto editado em 03/05/13 às 18h25
*Marcos Rodrigues é doutor em zoologia pela Universidade de Oxford (UK). Hoje, é professor e pesquisador da Universidade Federal de Minas Gerais.

Fonte: O Eco



A energia do oceano

                                                                                                                                    Por: Renato Cruz
 
Os oceanos são uma grande fonte potencial de energia. E eu não estou falando do petróleo da camada pré-sal. O movimento das ondas, das marés e das correntes marinhas e as diferenças de temperatura e da salinidade das águas podem ser convertidos em energia elétrica. Mas a tecnologia para isso tudo não foi totalmente dominada. Existem vários projetos-piloto no mundo, sem que se tenha encontrado uma solução viável economicamente para que os mares passem a gerar energia em larga escala.
O professor Segen Estefen, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), identifica uma oportunidade para o Brasil nessa área. "Temos condição de ser competitivos no mar, já que perdemos a corrida na energia solar e na eólica", disse Estefen, diretor de Tecnologia e Inovação do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia (Coppe), da UFRJ. Na semana passada, ele participou, no Recife, do 5.º Encontro Preparatório para o Fórum Mundial de Ciência 2013.
Em qualquer lugar, esse é um campo novo. De acordo com o relatório "Fontes de Energias Renováveis e Mitigação da Mudança Climática", publicado pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas em 2011, somente 0,002% do total da oferta de energia no mundo tem origem no mar.
O Brasil tem um dos projetos de ponta nessa área. No ano passado, foi instalada no Porto do Pecém, a 60 quilômetros de Fortaleza, uma usina de ondas. Com tecnologia da Coppe, teve apoio da Tractebel e do governo do Ceará. O investimento é de cerca de R$ 15 milhões, com recursos do Programa de Pesquisa e Desenvolvimento da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).
A costa brasileira tem um potencial de geração de energia de 114 gigawatts (GW). Desse total, cerca de 20% são viáveis, de acordo com o professor da UFRJ. Para se ter uma ideia do que seriam esses 22 GW, a usina hidrelétrica de Itaipu tem uma capacidade instalada de 14 GW. Os mares podem se tornar uma fonte alternativa importante de energia renovável, caso os desafios tecnológicos sejam resolvidos.
A usina de ondas de Pecém é um projeto experimental, com capacidade de 100 quilowatts (um quilowatt equivale a um milionésimo de gigawatt). Segundo Estefen, a usina foi construída com tecnologia 100% nacional, desenvolvida no Laboratório de Tecnologia Submarina da Coppe. Um dos pesquisadores chegou a registrar uma patente nos Estados Unidos.
O sistema tem dois módulos, cada um deles formado por uma boia com 10 metros de diâmetro e um braço mecânico de 22 metros de comprimento. As ondas fazem as boias subir e descer, e movimentam os braços mecânicos. O movimento alternado aciona uma bomba mecânica, que libera um jato com força equivalente a uma queda d'água de 400 metros, similar às das grandes hidrelétricas. O jato aciona uma turbina, que ativa um gerador e produz energia elétrica. A água desse jato não é do mar, mas água doce num sistema fechado que existe na usina.
Até agora, a usina de ondas funcionou durante alguns períodos. "Agora queremos colocar o laboratório em operação contínua", disse Estefen. "O desafio é garantir a confiabilidade do equipamento e manter a usina produzindo energia." A ideia seria garantir uma produção mínima de energia, como acontece nas usinas eólicas.
A tecnologia usada em Pecém surgiu no laboratório da Coppe, que também desenvolve soluções para exploração de petróleo em águas profundas. Segundo o professor da UFRJ, o próximo projeto será criar uma usina em alto-mar, no Rio de Janeiro. O projeto está sendo discutido com a Marinha e deve ser financiado por Furnas. A ideia é criar e instalar um módulo só, com investimento de cerca de R$ 8 milhões. Sem ocupar espaço na costa, que pode ser caro, a geração de energia do oceano acabaria por se tornar mais viável.
Os clientes poderiam ser as próprias plataformas do pré-sal. "O petróleo ainda vai dominar por algumas décadas", reconheceu Estefen. Mas, na sua visão, a exploração de petróleo em águas profundas pode ajudar o Brasil a desenvolver e dominar a tecnologia de geração de energia do mar, preparando o caminho para o futuro.